quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Boletim Logístico da Conab revela desempenho das exportações de soja e milho na safra 2023/24 apontam tendências para o próximo ciclo

 As exportações de soja e milho do Brasil apresentaram resultados distintos em novembro de 2024, de acordo com a edição de dezembro do Boletim Logístico divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A soja, com desempenho abaixo do esperado, registrou 2,55 milhões de toneladas embarcadas, o que representou uma queda de 45,8% em relação ao mês anterior. Esse recuo é reflexo da quebra na safra 2023/24, mas a expectativa para a próxima temporada, com a recuperação da produção, é que as exportações atinjam cerca de 105,48 milhões de toneladas, superando as vendas do ciclo atual.

O Brasil, maior exportador global de soja, viu redução no volume exportado em 2024 em comparação aos recordes de 2023. No acumulado de janeiro a novembro, o país exportou 96,8 milhões de toneladas de soja, contra 101,8 milhões no mesmo período do ano anterior, devido à quebra de safra e à queda nos preços internacionais. Esse desempenho fez com que a soja perdesse a liderança nas exportações do Brasil para o petróleo, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A última vez que a soja não foi líder na receita exportadora do país foi em 2021, quando o minério de ferro assumiu o topo.

Quanto aos portos, os do Arco Norte, que seguem como principais pontos de escoamento, responderam por 35% das exportações de soja em novembro de 2024, contra 33,8% no mesmo período de 2023. O Porto de Santos teve 28,9% da movimentação, enquanto no ano anterior esse volume foi de 30%. O Porto de Paranaguá, por sua vez, registrou uma leve queda, com 13,9% das exportações, contra 14,1% no mesmo mês de 2023.

No setor do milho, as exportações também apresentam distribuição pelos portos do país. Pelos portos do Arco Norte, foram escoadas 47,2% da movimentação acumulada de janeiro a novembro de 2024, contra 41,6% no mesmo período do ano passado. O Porto de Santos, com 41,6%, foi responsável por uma fatia significativa, seguido por Paranaguá (3,3%) e São Francisco do Sul (5,4%). Os principais estados exportadores de milho são Mato Grosso, Goiás, Paraná e Maranhão.

Em relação aos fertilizantes, a redução na importação do insumo em novembro de 2024, quando foram desembarcadas 4,2 milhões de toneladas, reflete a demanda já atendida para o período. Esse volume representa uma queda de 15% sobre o mês anterior, mas um aumento de 8,8% em relação ao mesmo período de 2023. No acumulado de janeiro a novembro, os portos brasileiros receberam 36,73 milhões de toneladas de fertilizantes, uma ligeira queda de 0,8% em comparação com o ano anterior. Entre os principais portos, Paranaguá recebeu 8,9 milhões de toneladas, Santos 7,19 milhões, e os portos do Arco Norte 6,39 milhões de toneladas.

De acordo com o Boletim, a mudança nas rotas de exportação e a intensificação do uso dos portos do Arco Norte refletem uma reconfiguração nas práticas logísticas, projetando um cenário de crescimento nas exportações e maior eficiência no escoamento de produtos agrícolas e insumos nos próximos anos.

Frete – Em novembro, os preços de frete apresentaram variações nas diferentes regiões do Brasil. Nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí e São Paulo, houve queda nos valores, impulsionada principalmente pela baixa demanda, redução nos volumes de grãos movimentados e retração nas negociações. O Distrito Federal também registrou queda, especialmente nas rotas que transportam soja, com recuos de preços de até 9% e 7% para alguns destinos.

Por outro lado, no Maranhão, a escassez de fretes para soja e a movimentação reduzida de milho resultaram em preços estagnados. Em Minas Gerais, o mercado permanece aquecido, com preços equilibrados, embora algumas praças tenham registrado aumento devido a ajustes pontuais nas condições logísticas e na demanda. A Bahia também manteve estabilidade nos preços de frete, apesar da queda no fluxo logístico e no volume de grãos comercializados. No Paraná, a situação permaneceu estável, sem grandes variações nos valores de frete.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Recuperação e renovação de pastagens degradadas no Cerrado é tema de curso on-line gratuito

 

A nova capacitação on-line "Recuperação e Renovação de Pastagens Degradadas no Cerrado", disponível na plataforma e-Campo, da Embrapa, é um espaço de aprendizagem sobre o diagnóstico da degradação e sobre as estratégias que auxiliam na escolha de soluções sustentáveis e adequadas para recuperação dos diferentes níveis de degradação do solo nos pastos do Cerrado. Desenvolvida pela Embrapa Cerrados (DF), a capacitação é gratuita e voltada a produtores rurais, técnicos extensionistas, consultores, professores, gestores públicos, estudantes e demais interessados no tema. As inscrições são realizadas no link https://ava.sede.embrapa.br/course/view.php?id=513.

Com carga horária de 50 horas, a capacitação é coordenada pelo pesquisador Luiz Adriano Cordeiro e também tem como palestrantes os pesquisadores Giovana Maciel, Gustavo Braga, Lourival Vilela, Júlio César dos Reis, Núbia Correia, Roberto Alves e Robélio Marchão, todos da Embrapa Cerrados.

O conteúdo foi estruturado em dois módulos. O módulo básico contém aulas sobre degradação de pastagens (causas, estágios e diagnóstico); gramíneas forrageiras para o Bioma Cerrado; estratégias de recuperação e renovação de pastagens no Cerrado; manejo do pastejo; uso do aplicativo Pasto Certo; e correção do solo e adubação de pastagens.

Já o módulo avançado é composto por aulas sobre análise econômica de estratégias de recuperação e renovação de pastagens; sistemas de Integração Lavoura-Pecuária; manejo de plantas daninhas em pastagens; manejo de insetos-pragas em pastagens; protocolos de certificação de pecuária de baixa emissão de carbono; e manejo do solo e sua qualidade em áreas de pastagens.

Além de ter acesso às aulas, o aluno poderá baixar gratuitamente diversas publicações, entre elas o folder Estratégias de Recuperação e Renovação de Pastagens Degradadas no Cerrado

A capacitação on-line é autoinstrucional (sem tutoria), podendo ser feita em qualquer dia e horário. O aluno que obtiver 70% dos pontos no conjunto de atividades obrigatórias e preencher a avaliação de satisfação e a enquete inicial receberá, gratuitamente, um certificado de conclusão assinado pela Embrapa. A emissão do certificado estará disponível somente se a nota mínima exigida e os demais requisitos para aprovação tiverem sido atingidos.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Boa produção e reabertura de exportações asiáticas tendem a favorecer oferta de arroz no mercado mundial

 A boa produção de arroz não só no Brasil, como em outros importantes países produtores tendem a favorecer a oferta do grão no mercado internacional. No país, a expectativa é que a safra 2024/25 chegue a 12,1 milhões de toneladas, como apontam os dados divulgados no 3º Levantamento da Safra de Grãos divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A recuperação da produção brasileira é consequência de uma maior área semeada combinada com uma melhor produtividade. O volume, se confirmado, está entre os maiores das últimas sete safras.

Esse panorama de recuperação de área e produção se repete em outros importantes produtores. Paraguai e Argentina também devem aumentar a área semeada do grão. De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção de arroz na América do Sul pode atingir 18 milhões de toneladas na safra 2024/25, o que representaria um recorde histórico de produção. Na Índia, um dos principais países produtores da cultura, também há previsão de alta na safra. As abundantes chuvas de monções tendem a influenciar positivamente no desenvolvimento das lavouras, com uma colheita estimada em 145 milhões de toneladas, conforme o USDA.

Além da expectativa de uma boa produção mundial para o grão, a retomada das exportações asiáticas também interfere em uma possível ampliação da oferta no mercado internacional. No final deste ano, a Índia anunciou a retomada de arroz branco não-basmati, fortalecendo o abastecimento global. As vendas ao exterior estavam proibidas desde 2023, medida que provocou uma alta significativa nos preços globais do arroz, que alcançaram o nível mais elevado em mais de 15 anos.

Esse cenário de boa oferta contribui para que, mesmo estando em período de entressafra, os preços pagos aos produtores de arroz no mercado interno apresentem movimento de queda. De acordo com dados da Conab, foi registrada uma redução de 13% na primeira semana de dezembro quando comparado com o mesmo período do mês anterior. Movimento também percebido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq/USP). Segundo o Cepea, entre os dias de 4 de novembro até 13 de dezembro, apenas na última semana os preços se mantiveram estáveis, com variação de 0,08%

Atento à possibilidade de um cenário futuro desafiador para os produtores e de forma a dar sustentação à atividade, o Governo Federal tem lançado leilões de Contrato de Opção de Venda (COV) do grão. “A medida é similar a um seguro, uma vez que garante um preço no momento da comercialização”, ressalta o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Arnoldo de Campos. A partir do contrato de opção, o agricultor tem o direito de vender ao governo federal o produto pelo preço firmado, mas não a obrigação. “Se no momento da venda o mercado pagar mais, o produtor pode não comercializar com o governo e optar por vender para o mercado. Ele tem no futuro a opção de escolher o que for melhor”, explica o diretor da Companhia.

Nesta sexta-feira (20), a Conab irá ofertar 16.241 contratos de 27 toneladas cada. O pregão será realizado a partir das 9h (horário de Brasília) por meio do Sistema de Comercialização Eletrônico da Conab (Siscoe).

A oferta será para os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins. Para os estados mineiros e paranaenses os contratos terão vencimento em 30 de julho de 2025. Já para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o vencimento será em 30 de agosto do ano que vem. Para Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins, os contratos vencem em 30 de outubro de 2025. Os valores de venda também estão estabelecidos de acordo com os prazos de cada vencimento. Mas vale destacar que os preços estabelecidos para a comercialização estão 20% acima do preço mínimo para a safra 2024/2025.

Para realizar as operações, o governo federal destinou à Companhia cerca de R$ 1 bilhão, para a aquisição de até 500 mil toneladas de arroz longo fino em casca, tipos 1 e 2 da safra 2024/25.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Parceria entre Pacto Contra a Fome e Ministério do Desenvolvimento Agrário prevê modelo para evitar desperdício e redistribuir alimentos nas Ceasas

 

Ministro Paulo Teixeira e Geyze Diniz durante assinatura de acordo de cooperação - Créditos: CEAGESP

Nesta segunda-feira, 16/12, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e o Pacto Contra a Fome, formalizaram acordo de cooperação que prevê a realização de um estudo e a proposição de melhores práticas de redução de perdas e desperdícios de alimentos focado na redistribuição a ser implementado por Centrais de Abastecimento em todo o Brasil, especialmente as de Minas Gerais e São Paulo.

 

Para isso, o Pacto Contra a Fome iniciará imediatamente um estudo das experiências exitosas executadas no país, propondo posteriormente caminhos para a replicação para as demais centrais de abastecimento. O objetivo da proposta é reduzir o desperdício de alimentos nos entrepostos e promover segurança alimentar e nutricional por meio da redistribuição dos alimentos.


O evento foi realizado no Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), da CEAGESP, em São Paulo, com a presença do ministro Paulo Teixeira, da presidente do conselho do Pacto Contra a Fome, Geyze Diniz, e do diretor-presidente da CEAGESP, José Lourenço Pechtoll, entre outras autoridades.


“É um dia muito importante porque mostra o papel da sociedade civil atuando com outras instituições e o governo. O objetivo do Pacto Contra a Fome é que a gente olhe os principais exemplos de movimentação dos CEASAS e dos melhores usos para evitar o desperdício de alimentos”, afirmou Geyze Diniz, cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome.


“O Pacto Contra a Fome será fundamental para pensar no melhor modelo, no impacto e na abrangência dessas iniciativas nas cidades e regiões", afirmou o ministro Paulo Teixeira.


Durante o evento, os participantes visitaram as instalações do Banco de Alimentos (BCA), onde ocorreu a entrega simbólica de alimentos doados por agricultores familiares.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Conab estima produção de 322,4 milhões de toneladas de grãos na safra 2024/25

 A estimativa para a safra 2024/25 é de uma produção de 322,4 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 8,2%, ou seja, 24,5 milhões de toneladas superior ao volume obtido no ciclo 2023/24. Caso o resultado seja confirmado, esta será a maior safra registrada na série histórica da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Já com relação à área, a expectativa é que sejam semeados 81,39 milhões de hectares na atual safra, somando todos os ciclos de produção, o que corresponde a uma adição de 1,45 milhão de hectares em relação à temporada anterior. Os números constam no terceiro levantamento da safra de grãos divulgado pela Companhia, nesta quinta-feira (12).

“As chuvas ocorridas até o momento favorecem as lavouras nos principais estados produtores. Em alguns locais tivemos curtos períodos de falta de chuva, mas não o suficiente para influenciar na estimativa de um novo recorde na produção brasileira de grãos”, destaca o presidente da Companhia, Edegar Pretto.

A semeadura da soja entra nos estágios finais e nesta semana o índice de plantio atingiu 94,1% dos 47,37 milhões de hectares destinados para a oleaginosa, como indica o Progresso de Safra publicado pela Companhia. O clima tem contribuído para a implantação e o desenvolvimento da cultura em grande parte dos estados produtores. Em algumas regiões do Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí, Tocantins e Maranhão foram registrados curtos períodos de falta de chuva. Ainda assim, as condições climáticas são favoráveis e é esperada uma produção de 166,21 milhões de toneladas, uma alta 12,5% em relação ao volume colhido em 2023/24.

Com crescimento de 9,8% na área destinada para o arroz, estimada em 1,77 milhão de hectares, o plantio da cultura também avança e já chega a 86,6%. De acordo com o levantamento da Conab, é esperado um incremento de área tanto no cultivo do arroz de sequeiro quanto sob irrigação. Com isso, a produção está estimada em torno de 12,1 milhões de toneladas do grão.

No caso do feijão, é esperado um crescimento de 1,7% na área, estimada em 2,9 milhões de hectares.  O maior incremento na área é esperado no primeiro ciclo de plantio da leguminosa, podendo chegar a 907 mil hectares, e a semeadura já  atinge 60,5%. A produção total também deve crescer 3,5% com expectativa de atingir volume em torno de 3,36 milhões de toneladas.

Para o milho, a previsão é de uma produção total de 119,63 milhões de toneladas, 3,4% acima da safra anterior. Apenas no primeiro ciclo do cereal, é esperada uma colheita de 22,61 milhões de toneladas. A semeadura da primeira safra do cereal já ultrapassa 70% da área e as condições climáticas, nas principais regiões produtoras, favorecem as lavouras. A Conab também prevê uma elevação de 3% na área destinada ao cultivo de algodão, com o plantio chegando a aproximadamente 2 milhões de hectares, o que resulta em uma estimativa de produção de pluma em 3,69 milhões de toneladas.

Já a colheita das lavouras de inverno da safra 2024 caminha para a sua finalização, com a conclusão prevista para meados deste mês. Para o trigo, principal produto cultivado, a estimativa é de uma colheita de 8,06 milhões de toneladas, redução de 0,4% do resultado obtido na safra anterior. Essa menor produção foi ocasionada, principalmente, pela redução de 14,1% na área de plantio dos estados da Região Sul, que representam 85,4% da área ocupada com trigo no país, aliada ao comportamento climático desfavorável durante todo o ciclo da cultura no Paraná.

Mercado – Os preços internos para o arroz registraram queda de 13% na primeira semana de dezembro quando comparado com o mesmo período do mês anterior. A redução acompanha a expectativa de boa safra do grão, quando se prevê uma elevação de 14% em relação ao ciclo anterior, com um consumo interno estável de 11 milhões de toneladas para a safra 2024/25. A maior colheita também permite uma expectativa de alta nas exportações de 1,3 milhão de toneladas na safra 2023/24 para 2 milhões de toneladas na safra 2024/25.

Para a soja, mesmo com o dólar em alta, as estimativas de exportação não devem passar de 99 milhões de toneladas neste ano, resultado influenciado pela quebra registrada na safra 2023/24. No entanto, com a recuperação da produção estimada na temporada 2024/25, espera-se que as vendas ao mercado externo no próximo ciclo fiquem em torno de 105,48 milhões de toneladas.

As informações completas sobre o 3° Levantamento da Safra de Grãos 2024/25 e as condições de mercado destes produtos podem ser conferidos no Portal da Conab.

3º Levantamento da Safra de Grãos 2024/20253º Levantamento da Safra de Grãos 2024/2025

 Nesta quinta-feira (12), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgará os resultados do 3º Levantamento da Safra de Grãos 2024/2025. O anúncio será transmitido pelo canal da Companhia no YouTube, a partir das 9h, e trará dados sobre produção, produtividade e área plantada das principais culturas de grãos do país.

O release e o boletim completo com os principais destaques estarão disponíveis no portal da Conab. O material também será enviado à imprensa por e-mail. As rádios de todo o país receberão o podcast sobre a safra e o programa também poderá ser acessado na página do ConabCast. Solicitações de entrevistas poderão ser feitas por e-mail.

Serviço:
3º Levantamento da Safra de Grãos 2024/2025
Data: Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Horário: 9h
Link: https://youtube.com/live/3bzX1Grp42g?feature=share

Pesquisadores trocam conhecimentos sobre mandiocultura com extensionistas da Emater-DF

 

Foto: Breno Lobato

Empenhadas no desenvolvimento da mandiocultura no Distrito Federal e região, a Embrapa Cerrados (DF) e a Emater-DF promoveram, no dia 3 de dezembro, um treinamento para cerca de 30 técnicos de todos os escritórios regionais do órgão de assistência técnica e extensão rural, visando ao nivelamento de informações, conhecimentos e inovações tecnológicas relacionadas à cultura para auxiliar os agricultores, além do estreitamento da relação entre pesquisa e extensão rural. Os pesquisadores Jorge Antonini, Josefino Fialho e Núbia Correia participaram do treinamento, realizado em formato de prosa técnica no espaço de olericultura da Emater-DF instalado no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF.

“É uma forma agradável de capacitação e uma boa oportunidade de recebermos o retorno da pesquisa e de passarmos o que vocês (extensionistas) vivenciam no campo. Essa parceria é o cerne da extensão rural: transformar a pesquisa em palavras simples e leva-la ao produtor”, disse o supervisor regional da Emater-DF, Rafael Ventorim. 

“Queremos ter um retrato da realidade do que está acontecendo na pesquisa e na extensão rural. É uma troca de ideias. Nós extensionistas precisamos ouvir o pesquisador tem de informação nova, e os pesquisadores precisam ouvir o que está acontecendo no campo”, reforçou o extensionista da Emater-DF, Hélcio Santos, coordenador do evento.

O pesquisador Josefino Fialho ressaltou o histórico de trabalhos em parceria entre a Embrapa Cerrados e a Emater-DF em mandiocultura. “O sucesso das nossas cultivares tem muito a ver com essa integração”, disse. “Agora queremos saber as principais dificuldades que os extensionistas têm tido na cultura da mandioca de mesa no Distrito Federal”, completou.

Os extensionistas elencaram uma série de gargalos e desafios da mandiocultura na região, como o manejo de plantas daninhas, o momento da aplicação de herbicidas e a falta de conhecimento sobre os produtos registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para a cultura; a necessidade de ajustes no sistema para alcançar o máximo de produtividade de raízes e rentabilidade; questões de manejo da adubação; o manejo da água nas lavouras com irrigação; a escolha da cultivar e a disponibilidade de manivas de qualidade para os produtores; a incidência de ácaros e do percevejo-de-renda; e o uso de produtos biológicos para o controle de pragas e doenças.

Uso de herbicidas

A pesquisadora Núbia Correia destacou dois fatores que afetam diretamente a ação dos herbicidas: a irrigação mal feita e o escorrimento superficial do produto. “O solo encharcado concentra o produto, e ele pode afetar a cultura. E o produtor muitas vezes esquece que o herbicida registrado para a cultura da mandioca pode afetar outra cultura que está ao lado, pode deixar resíduo no solo e pode também afetar a cultura que vem depois da mandioca”, explicou. “Trabalhar com herbicida não é simples, é extremamente técnico. Gostaria que os produtores tivessem essa noção de perigo”, completou, salientando a necessidade de cuidado com o uso desses produtos.

Correia falou sobre o momento da aplicação dos produtos, recomendando que o produtor planeje a aplicação atrelada ao plantio, antes do brotamento. “Ele tem que ter uma sequência em mente: plantar e aplicar. Quando a mandioca começar a brotar, já não poderá mais aplicar”, disse, apontando como alternativa, nesse caso, o jato dirigido do produto no solo e na base das plantas, o que evita o contato com as folhas.

Outra recomendação da pesquisadora é não deixar o solo encharcado pelo excesso de irrigação e aplicar o herbicida. “Se você fizer uma irrigação sem controle, correrá o risco de concentrar o produto na região mais superficial, próximo da maniva. O solo não pode estar seco, mas deve ter uma umidade normal”, observou. “Esses detalhes fazem toda a diferença. A tecnologia está disponível, mas precisamos saber usá-la”.

Manejo da irrigação e testes com novos materiais

Segundo o pesquisador Jorge Antonini, a tecnologia da irrigação, se utilizada adequadamente, promove aumentos significativos de produtividade, independente se a mandioca for cultivada após culturas hortícolas ou em solo recuperado, cobrindo facilmente os custos com o equipamento. “Em solo sem horticultura, a irrigação pode aumentar a produtividade em até 50%, e quando usada em associação com tecnologias como o mulching (cobertura plástica), o incremento é em torno de 90%”, afirmou.

Para Antonini, um grande gargalo do manejo de irrigação na região é a falta de conhecimento, sobretudo por parte dos pequenos agricultores. “Para se ter um manejo de irrigação perfeito, você tem que conhecer o tipo de solo com que está lidando, o equipamento disponível e a questão climática da região”, disse, destacando a necessidade de informações sobre as características físico-hídricas do solo como textura e capacidade de água disponível.

O pesquisador também apontou o desconhecimento dos agricultores quanto à lâmina de água aplicada na irrigação e à demanda de evapotranspiração da cultura para estimar o gasto de água em função do ciclo de desenvolvimento das plantas. Ele exemplificou o caso da região do DF e Entorno, onde nos primeiros 60 dias após o plantio em solo argiloso, o consumo de água da mandioca de mesa é muito pequeno, representando 50% da demanda de evapotranspiração do local. Após 60 dias, a mandioca gasta 100% da demanda evapotranspirométrica. E a partir de 150 dias até a colheita, ela gasta em torno de 80%. 

Com essas informações, segundo Antonini, é possível calcular quanto a planta consumiu de uma irrigação para outra. “Nos primeiros 60 dias, a mandioca é exigente em nível de umidade do solo, principalmente para não haver perda de plantas logo após o plantio. É preciso manter a umidade do solo num nível alto, deixando gastar 20% da capacidade água disponível e voltando a irrigar. A partir dos 60 dias até a colheita, você pode deixar gastar em torno de 60%”, afirmou, salientando que o produtor precisa saber sobre o solo e o equipamento disponível.

Já o pesquisador Josefino Fialho comentou sobre os testes com diferentes épocas de plantio com a cultivar de mandioca de mesa BRS 429, lançada em 2022, e com o clone 54/10, em parceria com produtores da região e com a Emater-DF. Ele informou sobre necessidade de mais unidades de observação no DF para a realização desses testes, com a distribuição, entre os escritórios regionais, de ramas produzidas na Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília. “A ideia é verificar o efeito na raiz em função da época de colheita”, explicou.

Fialho também abordou detalhes sobre o manejo da adubação e a correção do solo para o cultivo da mandioca de mesa a partir de resultados de experimentos realizados na região, bem como o controle dos ácaros e do percevejo-de-renda e o ajuste no espaçamento de plantas, visando à redução do déficit médio de 34 t/ha em relação ao potencial de 70 t/ha de produtividade máxima estimado para a região.

Interação positiva entre pesquisa e extensão rural

Os extensionistas consideraram positivo o treinamento e o método utilizado para debater as questões da mandiocultura no DF. “Achei (a prosa técnica) muito prática, nos aproxima muito da pesquisa e nos ajuda a entender os processos que estamos vivendo e construindo”, disse a engenheira agrônoma Gesinilde Santos, do escritório da Emater-DF em Planaltina. 

Hélio Lopes, técnico em agropecuária do escritório de Brazlândia, também destacou a aproximação da pesquisa com a extensão rural. “Não são coisas diversas. A pesquisa gera tecnologia, mas ela precisa da extensão para compreendê-la e transformá-la numa linguagem aceitável para o produtor, que é quem vai receber a tecnologia gerada. Essa aproximação é interessante para discutir todos os gargalos da cultura e poder transformar (as informações) numa linguagem simples e levar ao produtor rural”, comentou.

Para Joselito de Souza, técnico em agropecuária do escritório Pipiripau, os temas abordados no treinamento estão relacionados às demandas e angustias dos produtores. “A Embrapa e a Emater-DF já têm alguns trabalhos nessa área de atuação e sempre estamos em contato para melhorar as produtividades”, lembrou.

Assim como os colegas, o engenheiro agrônomo Kleiton Aquiles, do escritório do Gama, destacou a importância da troca de experiências entre a pesquisa e a extensão rural, além da divulgação das tecnologias existentes e as técnicas de desenvolvimento do cultivo aos produtores. “Desde o plantio até a colheita, é fundamental obter um produto de qualidade que atenda à demanda de consumo local”, afirmou.

Texto original e atualizações: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/96372678/pesquisadores-trocam-conhecimentos-sobre-mandiocultura-com-extensionistas-da-emater-df

Arroz da Gente – Governo Federal institui programa para estimular produção de arroz

 O Governo Federal instituiu o Programa Arroz da Gente. A Portaria Interministerial nº 15, que oficializa as ações, foi publicada nesta quarta-feira (11), no Diário Oficial da União (DOU), assinada pelos ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Wellington Teixeira.

O Programa, que conta com a participação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), visa incentivar a produção de arroz em áreas que já cultivaram o grão, além de assegurar o acompanhamento técnico e a garantia de comercialização do produto. A medida contará com crédito com juros menores, fomento, acompanhamento técnico, garantia de comercialização, além de buscar facilitar o acesso a tecnologias adaptadas à realidade local, incluindo pequenas máquinas, colheitadeiras e silos secadores de pequeno porte.

“O Arroz da Gente simboliza o redescobrimento no país desse alimento tão importante  para os brasileiros e brasileiras, pois passa a visibilizar e valorizar a produção de arroz dos povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e da agricultura familiar”, ressalta a coordenadora do Programa na Conab, Maria Kazé.

Nesta primeira etapa, o Programa será desenvolvido em 36 territórios de 148 municípios, distribuídos em 17 estados das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Cerca de 10 mil famílias produtoras deverão receber incentivo para aprimorar o cultivo de arroz, seja a partir de acompanhamento técnico, do apoio para aquisição de pacotes tecnológicos de baixo impacto (aquisição de maquinário, construção de silos armazenadores) de forma a zerar a colheita manual, até a comercialização. Dentre as ferramentas já  existentes e executadas pela Conab que podem ser utilizadas como forma de apoiar o escoamento do produto estão o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) entre outras.

Compra de arroz – Em setembro deste ano, a Conab realizou uma compra de 100 toneladas de arroz de agricultores e as agricultoras do território quilombola Brejão dos Negros, localizado no município de Brejo Grande, em Sergipe, sendo destinados R$ 750 mil para esta aquisição que simbolizou a primeira ação do Arroz da Gente.

O arroz adquirido do território quilombola Brejão dos Negros está sendo fornecido a aproximadamente 15 cozinhas solidárias de Sergipe a fim de complementar a alimentação das pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional atendidas pelas instituições beneficiadas.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Pesquisa revela potencial de árvores frutíferas de Brasília no combate à insegurança alimentar

 


Com 950 mil exemplares e 35 espécies, frutas amplamente disponíveis em locais públicos podem nutrir população de modo sustentável

Brasília abriga um grande pomar a céu aberto, com mais de 950 mil exemplares de árvores frutíferas de 35 espécies. A partir desta diversidade de recursos naturais, estudante de Nutrição do Centro Universitário de Brasília (CEUB) buscou identificar o pomar urbano como aliado no combate à insegurança alimentar da população vulnerável. O resultado da pesquisa foi surpreendente: com práticas simples, como o aproveitamento integral de frutas, o Distrito Federal pode combater a insegurança alimentar e se tornar referência em nutrição sustentável.
 
Nas superquadras da capital, é possível colher, em diferentes épocas do ano, frutas como abacate, acerola, açaí, amêndoa, amora, cajá-manga, caju, carambola, goiaba, graviola, jaboticaba, jambo, jamelão, jaca, manga, nêspera, pitanga, pitomba, romã, tamarindo, uva-do-pará, araçá, baru, cagaita, cajá, ingá, jatobá e pequi. Já no Parque da Cidade, podem ser encontradas espécies adicionais, como limão, jenipapo e oiti.
 
Focada no aproveitamento integral destes alimentos, com o uso de partes não convencionais, como cascas, a pesquisadora Camila Faeda testou a aceitação e viabilidade do consumo de ingredientes sustentáveis e acessíveis. “Ao incorporar ingredientes ricos em nutrientes, se evita a compra de produtos industrializados ou suplementos mais caros. Para famílias vulneráveis, onde cada real faz diferença, transformar resíduos em refeições nutritivas é uma estratégia para garantir alimentos acessíveis e combater o desperdício”, destaca Faeda. 
 
A partir da análise de literatura e experiência sensorial com uma das frutas presentes nos locais públicos da cidade, a escolha da manga se deu pela abundância em Brasília e pelo alto valor nutricional e versatilidade em receitas culinárias. “As mangueiras espalhadas pela capital fornecem um recurso alimentar riquíssimo, mas que muitas vezes é subutilizado”, alerta Camila.
 
Após a escolha do fruto, foi desenvolvida uma receita de bolo de casca de manga para a experiência sensorial de degustação para voluntários adultos de 20 a 60 anos. Essa etapa consistiu em desenvolver uma receita simples, facilitando a adoção e promoção de alimentação mais saudável e sustentável para famílias de diferentes contextos. “O bolo oferece fibras, antioxidantes e compostos que beneficiam o organismo. A ideia foi criar uma receita composta por ingredientes baratos e fáceis de encontrar. São todos disponíveis em cestas básicas”.
 
Segundo Camila Faeda, a aceitação positiva do bolo de casca de manga sugere que tais práticas não só são viáveis, mas podem ser bem recebidas pela comunidade e implementadas em políticas públicas no combate à fome. “Com práticas simples, como o aproveitamento das cascas de manga, a região não só pode combater a insegurança alimentar, mas também se tornar referência em nutrição sustentável, inspirando outras regiões a fazer o mesmo”, frisa.
 
Frutos no combate à insegurança alimentar
Para expandir o impacto da pesquisa, Camila Faeda afirma ser essencial promover, por meio de políticas públicas, oficinas culinárias gratuitas, ensinando famílias a usar partes não convencionais dos alimentos. “Programas escolares podem integrar o tema em atividades e merendas, sensibilizando as novas gerações. Campanhas educativas podem destacar os benefícios nutricionais e econômicos dessas práticas. Já parcerias com supermercados e feiras livres podem oferecer alimentos que seriam descartados a preços acessíveis”, reforça a pesquisadora.
 
Para Paloma Popov, orientadora do projeto e professora de Nutrição do CEUB, a metodologia utilizada é adaptável a diferentes contextos urbanos, ou seja, em outras cidades com diversidade de espécies frutíferas. “É importante identificar os alimentos mais comuns em cada região. Por exemplo, onde a manga não é comum, cascas de banana, sementes de abóbora ou talos de vegetais podem ser alternativas”, completa a orientadora. 
 
RECEITA BOLO DE CASCA DE MANGA
 
Ingredientes:
Casca de manga: 250 g (1 unidade)
Polpa de manga: 150 g (1 unidade)
Farinha de trigo: 240 g (2 xícaras)
Açúcar: 200 g (1 xícara)
Óleo vegetal: 120 mL (½ xícara)
Leite: 240 mL (1 xícara)
Ovos: 100 g (2 unidades)
Fermento em pó: 10 g (1 colher de sopa)
 
Modo de preparo:
- Preaqueça o forno a 180°C e unte uma forma de bolo.
- No liquidificador, bata as cascas de manga com o leite e o óleo até obter uma mistura homogênea.
- Em uma tigela grande, misture a farinha de trigo e o açúcar.
- Adicione a mistura seca à polpa de manga e às cascas batidas, mexendo bem até incorporar todos os ingredientes.
- Adicione os ovos à mistura e mexa até obter uma massa lisa. Por último, acrescente o fermento em pó e misture delicadamente.
- Despeje a massa na forma untada e leve ao forno por cerca de 35-40 minutos, ou até que um palito inserido no centro do bolo saia limpo.
- Deixe esfriar antes de desenformar e servir.
 
Rendimento: 8 porções
Custo total: R$ 5,50
Custo por porção: R$ 0,69
Tempo do Pré-preparo: 10 minutos
Tempo de Preparo: 40 minutos

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Empreendedorismo rural: Banco do Povo concede mais de R$ 21 milhões em crédito para negócios do campo

 

No Estado de São Paulo, há mais de 180 mil homens e mulheres à frente da gestão de estabelecimentos rurais, segundo o último Censo Agropecuário divulgado, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para impulsionar empreendedores da área, o Banco do Povo Paulista (BPP), da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Estado de São Paulo, oferece financiamento por meio de microcrédito produtivo com condições facilitadas, com juros baixos, visando apoiar a criação e o crescimento de negócios, além de impulsionar o desenvolvimento de diversos setores no estado, como a agricultura, pecuária, turismo rural, agroindústria, entre outros.


“Os recursos podem ser utilizados tanto para capital de giro quanto para investimentos fixos ou mistos, como na aquisição de matérias-primas e equipamentos", explica Marcos Wolff, coordenador de políticas de empreendedorismo da SDE.


De janeiro a outubro de 2024, o Banco do Povo Paulista desembolsou R$ 9,2 milhões em 544 operações no Estado de São Paulo, aos produtores rurais. Somente em outubro de 2024, foram desembolsados R$ 978 mil, distribuídos em 58 operações. No acumulado de janeiro de 2023 a outubro de 2024, o total de recursos liberados alcançou R$ 21,5 milhões com 1.244 operações realizadas. As áreas atendidas incluem comércio, indústria e serviços, em atividades como criação de bovinos para leite, horticultura e pesca de peixes em água doce, entre outras.

Roseli Alves Cordeiro, 50 anos, é um exemplo de reinvenção dentro do empreendedorismo rural. Antes motorista de caminhão de carga pesada, passou a se dedicar ao agroturismo e à agricultura em Juquiá, no sul do estado, após enfrentar um infarto e um câncer. Com o objetivo de aprimorar a gastronomia do rancho que possui com o marido, ela fez um empréstimo com o Banco do Povo e construiu e equipou uma cozinha, na qual prepara pratos típicos com produtos do rancho e de produtores locais.


Roseli diz que o empréstimo a ajudou na realização de um sonho. “Antes, cozinhava ao ar livre, o que tornava o trabalho difícil e demorado. Porém, com o empréstimo do BPP, consegui montar uma cozinha bem equipada e organizada dentro do rancho. Agora, preparar as refeições se tornou confortável. A estrutura, os equipamentos e a mobília facilitaram o processo de cozinhar e também melhoraram a experiência dos clientes, que desfrutam de um ambiente aconchegante”, diz a empreendedora.


Além do restaurante, a empreendedora oferece atividades turísticas no local, com passeios a cavalo e experiências imersivas na vida no campo. Depois de fazer uma trilha, os visitantes podem aproveitar os pratos típicos, como a moqueca de palmito, o purê de inhame e outras delícias do cardápio do rancho. “Alegra-me ver o reconhecimento das comidas, saber que são feitas com produtos da região, com a participação dos agricultores locais. Consigo mostrar um pouco do trabalho deles e vejo o sabor da nossa terra sendo apreciado”, afirma.


Câmara aprova projeto de renegociação de dívidas de produtores rurais atingidos por enchente no RS

 

A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que concede desconto aos produtores rurais para quitarem ou renegociarem dívidas se tiverem sofrido perdas em decorrência das enchentes de abril e maio deste ano no Rio Grande do Sul. Serão contemplados aqueles que perderam 30% ou mais da renda em atividades agropecuárias. A proposta segue para o Senado.

 

A medida consta do Projeto de Lei 4448/24, dos deputados José Guimarães (PT-CE) e Bohn Gass (PT-RS), que foi aprovado nesta terça-feira (26) com um substitutivo do relator, deputado Zucco (PL-RS). O projeto também incorpora a Medida Provisória 1247/24, cuja vigência se encerra nesta quarta-feira (27).

 

O texto do relator prevê a concessão do desconto mesmo sem validação das perdas declaradas caso sua análise não seja feita pelo órgão competente até 31 de dezembro de 2024.

 

Zucco afirmou que os eventos climáticos no Rio Grande do Sul impuseram severos desafios ao setor agropecuário, que é um setor "fundamental para a economia estadual e para o equilíbrio econômico nacional". "O projeto responde a essa crise com intervenções bem delineadas e abrangentes, que integram ações de recuperação e de adaptação frente à instabilidade climática", disse.

 

Segundo Zucco, os prejuízos no setor agropecuário foram de R$ 3,1 bilhões, com impactos diretos sobre cultivos estratégicos como arroz, soja e trigo, além de danos graves à infraestrutura produtiva e à pecuária.

 

Já o deputado Bohn Gass lembrou que as duas MPs incorporadas ao projeto (além da MP 1247, também a MP 1272/24) poderiam perder a validade e, em consequência, os recursos não chegariam aos agricultores gaúchos. "Se as MPs caducarem, os agricultores perderiam essa oportunidade", disse.

Segundo o texto aprovado, os pedidos de desconto deverão ser decididos pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Uma comissão especial de análise poderá atuar em seu lugar quando o município não tiver esse conselho ou o conselho não tiver informado o resultado da análise dos pedidos de desconto encaminhados pelos bancos após apresentação pelo interessado.

 

Essa comissão será composta por representantes dos ministérios da Agricultura e Pecuária, da Fazenda e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, que a presidirá.

 

Bohn Gass explicou que a análise das subvenções é feita de forma participativa com os conselhos municipais.

 

Descontos

O tema já foi regulamentado pelo Decreto 12.138/24, no qual estão fixados os valores máximos de desconto e outros detalhes para o acesso do agricultor.

Os maiores descontos serão decididos pela comissão especial de análise, que cuidará dos pedidos de desconto em operações individuais, grupais ou coletivas contratadas para custeio, industrialização ou investimento se as perdas tiverem sido iguais ou superior a 60% devido a deslizamento de terras ou destruição pela força das águas na inundação.

 

O colegiado analisará ainda pedidos de cooperativas de produção agropecuária nessas três modalidades de crédito se a perda tiver sido igual ou maior que 30%.

Se aprovado pela comissão de análise, os descontos, por mutuário, serão de até R$ 10 mil para os cooperados e de até R$ 120 mil para os demais, como definido no decreto.

 

No entanto, a comissão pode decidir por descontos menores e haverá um limite de desconto de até 50% das parcelas no caso dos cooperados. Após a definição do desconto, o resíduo de empréstimos para custeio e industrialização poderá ser renegociado para pagamento em até quatro anos, com vencimento da primeira parcela no próximo ano, mantidos os descontos e bônus previstos no contrato original.

 

Operações para investimento contarão com prazo prorrogado para até 12 meses após a data prevista para o vencimento dos contratos, mantidas também as condições originais.

 

Excepcionalmente, o desconto concedido em 2024 pela comissão poderá abranger as parcelas de crédito de investimento com vencimento em 2025, mas dentro dos limites máximos por mutuário.

 

Outros valores diferenciados de desconto poderão ser concedidos por um conselho municipal conforme o tipo de crédito obtido, mas todos os beneficiados devem seguir requisitos de enquadramento definidos:

 

1. Para custeio:

  • produtores rurais em geral ou aqueles contratantes junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e ao Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor (Pronamp);
  • parcelas com vencimento de 1º de maio a 31 de dezembro de 2024, desde que a operação tenha sido contratada até 15 de abril de 2024 e com liberação de recursos ao mutuário, total ou parcial, anterior a 1º de maio de 2024; e
  • empreendimento financiado localizado nos municípios do Rio Grande do Sul com estado de calamidade pública ou situação de emergência reconhecidos pelo governo federal até 30 de agosto de 2024.

 

2. Para investimento

  • produtores rurais em geral ou contratantes junto ao Pronaf e ao Pronamp;
  • com vencimento de 1º de maio a 31 de dezembro de 2024;
  • empreendimento financiado localizado nos municípios do Rio Grande do Sul com estado de calamidade pública ou situação de emergência reconhecidos pelo governo federal até 30 de agosto de 2024.

 

3. Para industrialização

  • somente para liquidação ou renegociação de operações contratadas no âmbito do Pronaf com a comprovação de perdas materiais.

 

Conselho municipal


A maior parte dos casos de pedido de desconto deverá ser decidida pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) ou órgão congênere.


Quando se tratar de empréstimos para custeio, se o mutuário apresentar apenas uma declaração pessoal de perdas da renda na atividade financiada de 30% ou mais, o desconto será de 30% sobre a parcela se houver a liquidação, limitado a R$ 20 mil no total.


Na opção por renegociar, o desconto será de 24% sobre as parcelas, limitado a R$ 16 mil no total.


Entretanto, se além da declaração pessoal o interessado apresentar laudo técnico, o conselho municipal poderá aprovar desconto de até 50% das parcelas na quitação ou R$ 25 mil, o que for menor.

Para renegociar, o desconto será de 40% das parcelas ou R$ 20 mil, o que for menor.


Esses descontos (só declaração ou declaração com laudo) não são cumulativos e serão concedidos, no contrato grupal ou coletivo, apenas ao produtor rural que tenha tido perdas e atenda às condições.

Com o decurso de prazo por falta de análise do pedido e do laudo, o desconto poderá atingir o máximo pedido pelo produtor dentro dos limites fixados.


Investimento


Nos empréstimos para investimento, o conselho municipal também avaliará da mesma forma, com valores diferentes. Assim, na apresentação apenas de declaração, o desconto para quitação será de 30% das parcelas, limitado a R$ 5 mil; se for para renegociar, o desconto será de 24% das parcelas, limitado a R$ 4 mil por mutuário.

Quando apresentados a declaração e o laudo técnico, o conselho poderá conceder desconto equivalente ao percentual de perdas da atividade ou bem financiados, limitado a 50% da parcela a ser quitada ou R$ 15 mil, o que for menor.


Em renegociações, vale a mesma lógica, mas os parâmetros são 40% ou R$ 12 mil, o que for menor.


Sem inadimplência


Para todos os casos, o mutuário deverá estar em dia com as parcelas antes de 1º de maio de 2024 para ter acesso aos descontos nas parcelas seguintes. As parcelas em atraso não contarão com desconto.

Essa regra consta do decreto, mas com a aprovação do projeto, deverá haver uma adequação, porque o PL 4448/24 permite aos bancos a renegociação de dívidas com mutuários que tenham restrição de crédito (cadastro negativo).

No entanto, isso valerá apenas para contratações no âmbito do Pronaf dos grupos A, A/C e B, em operações realizadas com risco integral do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) ou do Tesouro Nacional.


Exclusões


O projeto exclui determinadas operações, como aquelas liquidadas antes da data de publicação da Medida Provisória 1247/24 (31/07/24), aquelas com cobertura de seguro ou do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e aquelas conduzidas fora das condições estabelecidas pelo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).


Penalidades


Já os mutuários que omitirem ou prestarem informações falsas estarão sujeitos à devolução dos valores de desconto recebidos e à responsabilização cível, administrativa e penal.

Custos


Os custos resultantes da concessão do desconto e da renegociação das operações equalizadas serão assumidos pela União dentro do limite das disponibilidades orçamentárias e financeiras específicas para essa finalidade.


Fundo Social


O texto aprovado também aumenta em R$ 500 milhões os recursos do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) para cobrir operações inadimplentes contratadas por meio do Peac-FGI Crédito Solidário RS.

Esse programa foi criado para socorrer empresas atingidas pelas enchentes no estado por meio de créditos subsidiados, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com R$ 20 bilhões de recursos do Fundo Social, segundo aprovado pelo Projeto de Lei 3117/24.

O Fundo Social foi criado em 2010 para receber recursos de royalties e participações especiais pela exploração de petróleo, bônus de assinatura arrecadados nos leilões e receitas da comercialização do óleo e gás da União nos contratos de partilha, além dos resultados de suas aplicações financeiras.


Reforma agrária


Para assentados da reforma agrária, o deputado Zucco acrescentou dispositivo autorizando o uso de saldos financeiros de créditos que foram direcionados à instalação na terra (construção de habitação, apoio, etc.).

Esse saldo e sua rentabilidade poderão ser utilizados para beneficiar a população afetada por situações de emergência climática, e o empréstimo será precedido de contrato celebrado entre o Incra e a instituição financeira com o objetivo de atender exclusivamente às modalidades de crédito originais previstas na Lei 13.001/14.


Previsão legal


O projeto permite ainda ao governo ressarcir os bancos por descontos concedidos em empréstimos aos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul, preenchendo lacuna na legislação que não permitiu o repasse no tempo certo.


Em razão da perda de vigência da Medida Provisória 1216/24, por 17 dias os bancos continuaram a conceder empréstimos com descontos previstos na MP mesmo sem amparo legal. Esse intervalo ocorreu entre a perda da vigência e a publicação da Lei 14.981/24, que retomou a permissão de concessão de desconto nos empréstimos bancados pelo governo.


A MP destinou R$ 2 bilhões para desconto em empréstimos de micro e pequenas empresas e produtores rurais a serem tomados por empreendedores afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.


FGO


Em relação ao aporte de até R$ 600 milhões ao Fundo Garantidor de Operações (FGO), o projeto concede prazo maior, até 29 de novembro de 2024, para o Ministério da Fazenda fazer o repasse. O dinheiro garante empréstimos do Pronaf e do Pronamp.


Preços mínimos


Da Medida Provisória 1272/24, o Projeto de Lei 4448/24 incorporou outros pontos, como o uso da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) para produtos extrativistas para beneficiar agricultores familiares, extrativistas e povos e comunidades tradicionais. Essa política busca garantir uma rentabilidade mínima e beneficia principalmente a região amazônica em razão da estiagem.


Demora na ajuda


O deputado Afonso Hamm (PP-RS) lembrou que, com o fim do calendário agrícola, o prazo para plantar novas culturas está terminando. "Este socorro está chegando um pouco tarde, mas ainda há tempo para salvar o plantio desta safra e dar dignidade aos agricultores gaúchos."

Segundo o deputado Bibo Nunes (PL-RS), 1º vice-líder do PL, o apoio aos agricultores gaúchos está chegando tarde. "Nós passamos por omissos", disse.

Ele defendeu a aprovação da PEC 44/23, que reserva 5% dos valores de emendas individuais de parlamentares e de emendas de bancada para essa finalidade, para auxiliar a transferência. A PEC já passou pela Câmara e está em análise no Senado.

 

Fonte: Agência Câmara de Notícias

A atuação global do The Good Food Institute e a relevância no mercado brasileiro

 



O The Good Food Institute (GFI) tem se consolidado como uma das principais organizações dedicadas à promoção de proteínas alternativas e à construção de sistemas alimentares mais sustentáveis. Com um foco global, a organização é conhecida por fomentar inovações em pesquisa, políticas públicas e desenvolvimento tecnológico no setor. A parceria e colaboração do GFI com o evento New Meat Brazil 2025 da TrioXP - Feiras e Eventos, que acontecerá em março, trará ao Brasil essa experiência internacional, conectando o país às mais avançadas discussões sobre o futuro da alimentação.

Atuação em eventos internacionais: um impulso para o Brasil

Em eventos como a COP28 e a conferência SB60 em Bonn na Alemanha, o GFI tem sido um defensor ativo da inclusão de sistemas alimentares sustentáveis nas metas climáticas globais. Na SB60, por exemplo, destacou a necessidade urgente de mais financiamento para desenvolver proteínas alternativas, especialmente em países do Sul Global, como o Brasil. Essa abordagem tem impulsionado discussões sobre como sistemas alimentares inovadores podem mitigar as mudanças climáticas, uma questão crucial para o futuro do Brasil.


A participação do GFI na COP28 reforçou essa pauta, ao pressionar por compromissos climáticos que incluam transformações no setor de alimentos. Com essa trajetória internacional, a organização tem sido uma referência importante no avanço de políticas que promovem uma agricultura mais sustentável, algo que será amplamente debatido no New Meat Brazil.


Contribuição para o mercado brasileiro

A presença do GFI no Brasil traz grande potencial para fortalecer o país como líder em proteínas alternativas. Iniciativas como o Programa Biomas, do GFI Brasil, que visa o desenvolvimento de ingredientes a partir de espécies nativas da Amazônia e do Cerrado, mostram como a inovação local pode transformar o país em um protagonista global do setor. Além de promover a economia e gerar novas oportunidades de negócios, o Brasil tem a chance de contribuir significativamente para a redução do impacto ambiental da produção de alimentos.


A expertise do GFI em temas de pesquisa e desenvolvimento aplicados a proteínas plant-based, cultivadas e fermentadas será essencial para o evento de 2025. A New Meat Brazil contará com discussões de alto padrão e oportunidades de networking com especialistas e empresas nacionais e internacionais, abrindo caminho para novos investimentos e parcerias que podem transformar o mercado nacional.


Expectativas para o New Meat Brazil 2025

Com a experiência acumulada em eventos internacionais, o GFI está bem posicionado para colaborar com o New Meat Brazil 2025, fortalecendo o debate sobre o futuro das proteínas alternativas no Brasil. O evento será uma vitrine das mais recentes inovações e trará ao país um olhar global sobre as possibilidades de crescimento do setor. A participação do GFI, com suas iniciativas locais e visão estratégica, deverá impulsionar o desenvolvimento de cadeias produtivas mais sustentáveis, contribuindo para a transformação da alimentação e a promoção de uma economia verde.


A expectativa é que, com o apoio do GFI, o New Meat Brazil 2025 ajude a consolidar o Brasil como um hub de inovação, atraindo atenção internacional e posicionando o país na vanguarda da transição para uma alimentação mais sustentável.

 

SERVIÇO NEW MEAT BRAZIL:

QUANDO

14 e 15 de março de 2025

ONDE

Centro de Convenções Frei Caneca - 6º andar, São Paulo

HORÁRIO

das 10h00 às 18h00

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Centro busca melhorar qualidade de vida no Marajó com tecnologias digitais para as cadeias do açaí e do mel

Agroextrativista em Breves, Maciel Toledo segura cacho de açaí: instalação de Distrito Agrotecnológico promete levar agricultura digital a pequenos produtores na Ilha do Marajó (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


Agência FAPESP* –André Julião, de Breves (PA) | Agência FAPESP* – Com 21 anos, William Batista é um entusiasta das tecnologias digitais. Apesar da internet lenta disponível na comunidade onde vive, Jupatituba, no município de Breves (PA), na Ilha do Marajó, ele usa o celular para postar vídeos e estudar para o curso de magistério.


O futuro professor, no entanto, quer ir além. Espera usar tecnologia para cuidar das terras da família, onde maneja o açaí. “Com um drone poderíamos fazer um mapeamento e identificar as áreas mais adequadas para o plantio, sem ter de necessariamente ir até o local, que muitas vezes é de difícil acesso”, conta Batista.


A demanda foi uma das muitas ouvidas pelos pesquisadores do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital) durante visita à comunidade em outubro de 2024, acompanhada pela Agência FAPESP.



 



Sediado na Embrapa Agricultura Digital, em Campinas, o Semear Digital é um dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) apoiados pela FAPESP. Seu objetivo é levar conectividade, capacitação e desenvolvimento de tecnologias de agricultura digital para pequenos e médios produtores das cinco regiões do país, por meio de dez Distritos Agrotecnológicos (DATs) (leia mais em: agencia.fapesp.br/41128 e agencia.fapesp.br/50214).


“Esse DAT foi selecionado a partir de uma metodologia onde avaliamos indicadores econômicos, ambientais e sociais entre os mais de 5 mil municípios do Brasil. Breves foi aquele que apresentou mais desafios na Amazônia, tanto do ponto de vista da conectividade quanto do próprio bioma”, explica Silvia Massruhá, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e coordenadora do Semear Digital.


O projeto tem ainda como instituições associadas o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Economia Agrícola (IEA), o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e a Universidade Federal de Lavras (UFLA).


O DAT de Breves terá como foco a cadeia produtiva do açaí e o manejo de abelhas nativas. Atualmente, a Embrapa Amazônia Oriental, com sede em Belém, realiza atividades afins neste e em outros municípios da Ilha do Marajó. Por isso, a unidade da empresa será o ponto focal do projeto na localidade.



Frutos de açaí vendidos em feira livre em Belém, de onde vão para beneficiamento (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


Massruhá conta que, durante as atividades junto aos produtores, os pesquisadores perceberam que as pessoas levavam o celular para o campo, mesmo que este não tivesse propriamente uma função na atividade. Foi aí que viram o potencial para desenvolver aplicações que pudessem apoiar, por exemplo, o manejo de mínimo impacto de açaizais nativos, uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa.


Neste caso, o aplicativo criado foi o Manejatech Açaí, por meio do qual é possível fazer o inventário dos açaizais de uma área e aplicar os métodos mais adequados de manejo, como espaçamento entre as plantas e o número de árvores de outras espécies que devem estar no mesmo espaço. A aplicação funciona mesmo sem acesso à internet.


“Eram informações coletadas pelos pesquisadores, levadas para a Embrapa, processadas e trazidas em outra visita. Hoje, com a tecnologia, você pode fazer isso de forma instantânea, dando agilidade entre a pesquisa e a adoção da tecnologia”, analisa Massruhá.


Açaí e mel


O Semear Digital vai apoiar ainda uma atividade recente na região, com grande potencial de geração de renda aos agricultores: a melipolinicultura. A criação de abelhas nativas, sem ferrão, ajuda a conservar espécies desse inseto social ameaçadas justamente pela atividade humana, ao mesmo tempo em que aumenta a produtividade dos açaizais entre 30% e 70%, a depender da espécie e da distância das colmeias em relação às flores do açaizeiro.



Enilson Solano (à esq.) e Daniel Pereira, da Embrapa Amazônia Oriental, apresentam criação de abelhas

à presidente da Embrapa, Silvia Massruhá (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


“As abelhas sem ferrão têm um vínculo muito próximo com a cultura do açaí, principalmente porque uma boa parte delas são abelhas pequenas, então conseguem polinizar as flores dos açaizeiros. Existe uma relação antiga entre as populações da região e as abelhas, mas esse conhecimento foi perdido por uma série de fatores”, narra Daniel Santiago Pereira, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.


O pesquisador acrescenta que, entre as diversas espécies de abelhas nativas, muitas exclusivas da Ilha do Marajó, algumas produzem méis com propriedades bioativas diferentes das encontradas nos mais conhecidos, o que pode ter um grande apelo de mercado.


“A conectividade vem para facilitar a interação com o maior número possível de produtores, possibilitando que esse conhecimento possa ser novamente apropriado por essas populações”, acredita Pereira.


Atualmente, a Embrapa Amazônia Oriental disponibiliza duas aplicações digitais voltadas à melipolinicultura. O Infobee agrega informações sobre as diferentes espécies e formas de manejo. Enquanto o Zapbee usa inteligência artificial para permitir que melipolinicultores possam tirar dúvidas pelo Whatsapp com um robô sobre a criação de abelhas, tanto nativas quanto introduzidas.


“Estamos aprimorando a tecnologia para que as pessoas possam mandar mensagens de voz e receberem as respostas também em áudio, facilitando o acesso mesmo para aqueles com baixa escolaridade”, afirma Michell Costa, analista da Embrapa Amazônia Oriental.


Demandas


Com cerca de 40 mil quilômetros quadrados (km2), a Ilha do Marajó tem em torno de 97% de áreas naturais, exercendo grande contribuição para a regulação climática e a manutenção da biodiversidade.


O município de Breves, com pouco mais de 106 mil habitantes, possui cerca de metade da população na área urbana, que ocupa cerca de 9,3 km2, um milésimo do território do município, de mais de 9 mil km2 (a área da cidade de São Paulo, por exemplo, é de pouco de mais de 1,5 mil km2).


Em 2022, apenas 6,1% dos domicílios estavam conectados à rede de esgoto e 9% da população tinha emprego formal. No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o município figura com a marca de 0,503, pouco acima da vizinha Melgaço, cidade com o pior desempenho do Brasil (0,418) e bem abaixo da primeira colocada, São Caetano do Sul (SP) (0,862). Os números de IDH disponíveis para o Brasil, porém, são de 2010.


Assim como os outros nove Distritos Agrotecnológicos do Semear Digital distribuídos no Brasil, o município foi escolhido por meio de uma metodologia desenvolvida no Instituto de Economia Agrícola, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.


Entre os mais de 5 mil municípios brasileiros, foram cruzadas oito variáveis, como educação, economia, infraestrutura e estrutura fundiária, e, a partir delas, 33 indicadores. A ideia era que, nos municípios escolhidos, a implantação do projeto pudesse causar impacto real na população e na agricultura. A partir de uma lista com os mais adequados na região Norte, Breves foi escolhido levando em consideração fatores adicionais, como governança local e atividade agropecuária.


“Esse é um DAT com características muito diferentes dos outros selecionados no Brasil, pois a base de sua economia agrícola é o extrativismo. Além disso, possui dificuldades de mobilidade entre as comunidades. Estamos certos de que a agricultura digital e a conectividade causarão grande impacto não só na população ribeirinha, mas também em toda a cadeia de valor do açaí e do mel”, diz Priscilla Fagundes, pesquisadora do IEA.


A principal tarefa na primeira visita foi justamente o levantamento das demandas da população. A ideia era entender como a agricultura digital pode ajudar na produção do açaí, principal produto da região, e na melipolinicultura, que ainda dá os primeiros passos no território.



Celso Vegro, pesquisador do IEA, realiza entrevista em comunidade de Breves (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


“Como em todos os outros DATs que instalamos, a primeira necessidade relatada aqui é o próprio acesso à internet de qualidade. Uma das ideias é usar a conectividade para melhorar a venda do açaí e a compra de insumos, sem falar em como ela poderia melhorar o acesso à saúde e à educação”, aponta Édson Bolfe, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital.


Durante a dinâmica de grupo em que participaram com representantes da comunidade, os pesquisadores identificaram ainda uma demanda por rastreabilidade e certificação da produção, um dos eixos temáticos de pesquisa do Semear Digital. Outros eixos incluem inteligência artificial, sensoriamento remoto e agricultura de precisão


“O açaí colhido aqui passa por dois ou três atravessadores até chegar ao consumidor. Os produtores gostariam que a qualidade do produto deles fosse reconhecida em Belém e nas outras cidades onde é consumido”, diz Bolfe.


Com base na visita, um relatório elaborado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), uma das instituições parceiras do Semear Digital, apontou as principais possibilidades para instalação de conexão de melhor qualidade na área. O projeto não instala internet nas comunidades, mas articula com empresas locais e o poder público para que isso ocorra.


“Além das opções de conexão via satélite, atualmente no limite de operação, vislumbramos como viável a implementação de uma infraestrutura de conectividade terrestre. A proposta envolve a instalação de uma antena de 50 metros de altura em um torrão de terra firme previamente identificado, oferecendo cobertura 5G. Essa configuração permitiria alcançar um raio de aproximadamente 10 km a partir do local da antena, beneficiando a maioria das comunidades na região”, indica Fuad Abinader, pesquisador do CPQD em Manaus, presente na comitiva.


Com a instalação dos dez DATs nas cinco regiões do país, o Semear Digital espera trazer modelos de políticas públicas para a conectividade em zonas rurais. O sucesso do DAT Breves, por sua vez, pode trazer esse modelo para a região amazônica.


“É algo que realmente me emociona e que está na origem desse projeto: fazer o desenvolvimento digital puxar o social. A ideia é não apenas aumentar a produtividade, agregar valor aos produtos da floresta, como também melhorar a qualidade de vida das pessoas”, encerra a presidente da Embrapa.



Comitiva que participou da inauguração do Distrito Agrotecnológico (DAT) de Breves (PA), em outubro (foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP)


 




 


* Colaborou Daniel Antônio

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