segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Formigas defendem plantas de herbívoros, mas podem atrapalhar polinização

 

Conclusões da pesquisa são resultado da análise de dados publicados em 27 estudos empíricos sobre as relações entre formigas, polinizadores e plantas com nectários extraflorais (foto: Amanda Vieira da Silva/UFABC)

Formigas defendem plantas de herbívoros, mas podem atrapalhar polinização
06 de agosto de 2025

Análise da interação entre formigas, plantas que secretam substância adocicada para atraí-las, “interessadas” em se defender de animais que se alimentam de folhas, e abelhas indica que as protetoras convocadas podem afugentar as polinizadoras. Já as borboletas não se incomodam

André Julião | Agência FAPESP – Cerca de 4 mil espécies de plantas, de diferentes partes do mundo, secretam néctar fora das flores, como no caule ou nas folhas, por meio de glândulas secretoras conhecidas como nectários extraflorais. Diferentemente do néctar floral, o extrafloral não está envolvido na atração de polinizadores, mas de insetos defensores das plantas, como as formigas. Elas se alimentam desse líquido adocicado e, em troca, protegem a planta contra herbívoros. A proteção, porém, tem seu custo.

Um estudo publicado no Journal of Ecology por pesquisadores apoiados pela FAPESP aponta que a presença das formigas pode reduzir a frequência e o tempo de permanência das abelhas em flores de plantas com nectários extraflorais.

A polinização só é prejudicada quando os nectários extraflorais estão próximos das flores. Plantas que possuem essas glândulas em outras partes, como folhas e ramos, tiveram sucesso reprodutivo aumentado, provavelmente por causa da proteção contra herbívoros ofertada pelas formigas.

Por sua vez, as borboletas, outro grupo de polinizadores, não são prejudicadas pelas formigas. A explicação pode ser a forma como esses dois grupos se alimentam. As borboletas utilizam um órgão comprido em forma de canudo, conhecido como espirotromba, para sugar o néctar a uma distância segura das formigas.

“As abelhas, por sua vez, precisam se aproximar bastante da flor para coletar o pólen e o néctar floral, mas as formigas não as deixam permanecer por muito tempo. Não por acaso, nossa análise apontou que a presença das formigas é prejudicial à polinização quando os nectários extraflorais estão perto das flores, mas com efeito positivo para a reprodução das plantas quando ficam em outras partes mais distantes”, explica Amanda Vieira da Silva, que realizou o trabalho como parte de seu doutorado com bolsa da FAPESP no Programa de Pós-Graduação em Evolução e Diversidade da Universidade Federal do ABC (PPG-EvoDiv-UFABC), em São Bernardo do Campo.

As conclusões são resultado da análise de dados publicados em 27 estudos empíricos sobre as relações entre formigas, polinizadores e plantas com nectários extraflorais. Os artigos foram selecionados a partir de uma triagem inicial de 567 estudos, depois de aplicada uma série de critérios de inclusão e exclusão. Os dados foram compilados e analisados com o auxílio de ferramentas computacionais.

Múltiplos mutualismos

“Normalmente, os estudos têm focado no efeito de apenas uma interação isolada sobre as plantas. Quantifica-se quanto a formiga favorece a defesa das plantas perante herbívoros ou quanto o polinizador favorece a reprodução da planta, por exemplo. Mas essas interações podem ocorrer ao mesmo tempo. Então, para entender como essas interações influenciam o crescimento e a reprodução das plantas, precisamos olhá-las de maneira integrada”, detalha Laura Carolina Leal, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Universidade Federal de São Paulo (ICAQF-Unifesp), em Diadema, que orientou o doutorado de Silva e também assina o trabalho.

Análises evolutivas dos gêneros de plantas que possuem nectários extraflorais apontam ainda que essa característica é facilmente adquirida e perdida ao longo do tempo. A interferência das formigas na visitação das flores por abelhas pode, portanto, ter atuado como uma pressão seletiva determinante na trajetória evolutiva dos nectários extraflorais em plantas.

“Se as formigas que visitam os nectários extraflorais prejudicam a reprodução das plantas ao espantar as abelhas, a manutenção desses nectários pode se tornar desvantajosa para as plantas e as glândulas serem perdidas ao longo do tempo evolutivo”, esclarece Leal.

Não por acaso, dos quase mil gêneros que possuem nectários extraflorais, apenas 46 dependem exclusivamente de abelhas para polinização. Pelo menos para alguns casos, os autores têm uma hipótese para a ocorrência simultânea da interação das plantas com formigas defensoras e abelhas polinizadoras.

“Sabemos que, em alguns grupos de plantas com nectários extraflorais e flores polinizadas pela vibração das abelhas, as folhas novas com nectários extraflorais ativos e as flores são produzidas em estações diferentes ao longo do ano, o que evitaria o conflito entre ambas”, diz Anselmo Nogueira, professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH-UFABC), coorientador de Silva e coautor do estudo.


Cada uma no seu pedaço: abelha se alimenta na flor, enquanto formiga se aproveita de nectário extrafloral (foto: Amanda Vieira da Silva/UFABC)

Novos estudos em desenvolvimento pelo grupo de pesquisadores buscam entender se uma terceira interação pode atuar como força estabilizadora da interferência das formigas na polinização de plantas com nectários extraflorais.

“Se o recurso for muito bom para a abelha na flor e para a formiga na folha, talvez elas nunca se encontrem. Além disso, parte das plantas com nectários extraflorais, como algumas leguminosas, abriga em suas raízes bactérias fixadoras de nitrogênio, que favorecem a produtividade da planta e podem viabilizar o investimento da planta em recursos de alta qualidade para ambos parceiros animais”, comenta Nogueira.

O pesquisador coordena projeto conduzido no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP que investiga a evolução de múltiplos mutualismos em uma mesma linhagem de plantas. Em um trabalho anterior, seu grupo mostrou justamente que a interação entre uma espécie de leguminosa e bactérias fixadoras de nitrogênio aumenta a atratividade dessas plantas para as abelhas polinizadoras (leia mais em: agencia.fapesp.br/52137).

O artigo Ants on flowers: protective ants impose a low but variable cost to pollination, moderated by location of extrafloral nectaries and type of flower visitor pode ser lido em: https://besjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/1365-2745.70087.

Conab realiza novo leilão para compra de 41,5 mil toneladas de milho

 Operações estão marcadas para os dias 13 e 14 de agosto; cereal será destinado para o atendimento do Programa de Venda em Balcão (ProVB)

Com o objetivo de abastecer os estoques governamentais de milho voltados para o atendimento do Programa de Venda em Balcão (ProVB), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizará novamente rodadas de leilão para a compra de milho. A expectativa é adquirir 41,5 mil toneladas do cereal em novas operações de compra marcadas para os dias 13 e 14 de agosto e executadas pelo Sistema de Comercialização Eletrônica da Conab (Siscoe).

No leilão marcado para a próxima quarta-feira (13), a Companhia espera comprar 12,5 mil toneladas de agricultores familiares e suas cooperativas de produção, proporcionando acesso facilitado e condições mais justas para os pequenos produtores. Já na quinta-feira (14), o leilão de compra do grão será ofertado em caráter de ampla concorrência, ou seja, todos os produtores, cooperativas e demais fornecedores de milho poderão participar, inclusive agricultores familiares.

O milho a ser adquirido deverá ser entregue nos municípios de Irecê (5 mil t), na Bahia; Imperatriz (7,5 mil t), no Maranhão; Rondonópolis (3 mil t), em Mato Grosso; Uberlândia (10 mil t), em Minas Gerais; além de Brasília (16 mil t), no Distrito Federal.

Todos os comunicados, avisos e resultados destas operações estarão disponíveis no Portal da Conab. Podem participar dos leilões os produtores rurais, cooperativas, associações e comerciantes, cadastrados perante a Bolsa de Mercadorias por meio da qual pretendam realizar a operação, e registrados, na data da realização do leilão, no Sistema de Cadastro Nacional de Produtores Rurais e Demais Agentes da Conab (Sican), além de estarem em situação regular no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf) e demais exigências dos editais.

Aquisição realizada - A Conab adquiriu 8,5 mil toneladas de milho em leilão de compra realizado nesta sexta-feira (1º). O cereal será entregue pelos vencedores diretamente na unidade armazenadora da Conab em Uberlândia (MG) para posterior comercialização por meio do ProVB.

“A intenção é que o grão fique em locais estrategicamente selecionados de maneira a reduzir tanto o custo de transporte como o tempo para o reabastecimento das unidades de venda da Companhia. Assim, além da melhor aplicação do recurso público, a Conab busca garantir aos criadores e criadoras a compra do produto na melhor janela de preços”, reforça o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Arnoldo de Campos.

O reforço nos estoques públicos de milho vendido pela estatal vai auxiliar pequenos criadores de animais em todo o país, sobretudo aqueles situados em locais mais distantes dos grandes centros e das zonas de maior produção, e que utilizam o produto para a alimentação dos seus plantéis.

Estas operações de compra de milho voltadas para o abastecimento do Programa de Venda em Balcão estão autorizadas pelos ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), da Agricultura e Pecuária (Mapa) e da Fazenda (MF), conforme a Portaria Interministerial MAPA/MF/MDA nº 21/2024.

Serviço:
Leilões para compra de milho

Data: quarta-feira, 13 de agosto de 2025
Horário: 9h
Aviso Nº 61

Data: quinta-feira, 14 de agosto de 2025
Horário: 9h
Aviso Nº 62


Embrapa Maranhão ensina a transformar resíduos orgânicos em compostos agrícolas

 

Agricultores familiares, estudantes do ensino médio e universitários terão a oportunidade de aprender, na prática, como transformar resíduos orgânicos em composto para uso agrícola. No próximo sábado, dia 9 de agosto, será realizada a Oficina sobre Compostagem de Resíduos Orgânicos, das 8h às 12h, no Pátio de Compostagem da Associação dos Pequenos Agricultores da Comunidade Laranjeiras, localizada na Gleba Tibiri-Pedrinhas, em São Luís -  Maranhão.

O evento será conduzido pelo pesquisador Antônio Carlos Reis de Freitas, da Embrapa Maranhão, e tem como objetivo apresentar os procedimentos corretos para o preparo de compostos orgânicos, destacando os cuidados essenciais durante o processo de compostagem. 

Fruto de uma parceria entre a Embrapa Maranhão e a Associação dos Pequenos Agricultores da Comunidade Laranjeiras, a oficina faz parte da atividade de pesquisa Desenvolvimento de substratos para mudas elaborados com compostos orgânicos da mistura de resíduos da agroindústria do açaí com esterco bovino, que é parte do projeto “Desenvolvimento de fertilizantes e de substratos a partir de esterco de aves, biomassa de adubo verde e outros resíduos de composição orgânica” liderado pela Embrapa Agrobiologia.

“Já iniciamos a preparação dos materiais por meio da trituração dos resíduos e, no sábado, nós iremos apresentar como é que se deve preparar as leiras para a produção dos compostos e explicar os principais cuidados a serem adotados no processo de compostagem”, explica o pesquisador Antônio Carlos Freitas.

A Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Laranjeiras dispõe de um pátio de compostagem que foi obtido com o apoio da Companhia Vale do Rio Doce. A comunidade já tem a prática de atividades com adubação orgânica e, por meio da parceria com a Embrapa Maranhão, pretende ampliar os conhecimentos na área.

Flávia Bessa (MTb 4469/DF)
Embrapa Maranhão

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Estudantes da UFVJM conhecem pesquisas com pitaya e manejo de água na Embrapa Cerrados

 Foto: Breno Lobato

Breno Lobato - Visitantes conheceram o sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo e experimentos com pitayas

Visitantes conheceram o sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo e experimentos com pitayas

A Embrapa Cerrados (DF) recebeu na última segunda-feira (23) a visita de um grupo de 21 alunos dos cursos de Agronomia e de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM - Campus Unaí). Acompanhados pelos professores Hermes da Rocha (da disciplina Irrigação), Alessandro Nicoli (Fruticultura) e Lucas Santana (Máquinas e Mecanização), os estudantes assistiram a apresentações do chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia, Fábio Faleiro, e da pesquisadora Maria Emília Alves no auditório Wenceslau Goedert e nos campos experimentais da Unidade.

Faleiro fez a apresentação institucional do centro de pesquisas, destacando a revolução da agropecuária brasileira nos últimos 50 anos que tornou o Brasil um importante produtor e exportador de alimentos. Grade parte desse processo se deveu à conquista do Cerrado, que teve a contribuição decisiva das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados. 

O pesquisador falou sobre as principais linhas de pesquisa e tecnologias da Unidade, bem como a inserção do centro nos atuais objetivos estratégicos finalísticos da Embrapa (recursos naturais e mudanças climáticas, tendências de consumo e agregação de valor, segurança alimentar e Saúde Única, produção sustentável e competitividade, bioeconomia e economia circular, inclusão socioprodutiva e digital, tecnologias emergentes e disruptivas); e a busca pelo equilíbrio entre agronegócio, sociedade e recursos naturais. “A conquista do Cerrado não seria possível sem políticas públicas, ciência, tecnologia e inovação, extensão rural e transferência de tecnologia, mas, principalmente, sem a força do produtor rural brasileiro”, afirmou.

Importância da agricultura irrigada


Ao fazer um panorama sobre a agricultura irrigada, Maria Emília Alves lembrou que a agricultura é a atividade humana que mais depende das condições do tempo e do clima. Nesse sentido, o déficit hídrico é o principal fator climático de risco para a agricultura brasileira – e é aí que reside a importância da irrigação. 

Entre as vantagens da agricultura irrigada, ela apontou a redução do risco climático, a verticalização da produção (com o aumento da produtividade e a utilização do solo durante todo o ano), a agregação de valor aos produtos e a geração de empregos – todos esses fatores contribuem para o aumento e a estabilidade da oferta de alimentos e, consequentemente, para a segurança alimentar e nutricional.

Segundo dados apresentados pela pesquisadora, os 12% de área agrícola do mundo irrigados respondem por 40% da produção de alimentos. No Brasil, a área irrigada em 2021, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), era de 8,2 milhões ha (sexta maior do mundo), representando menos de 20% da área cultivada, porém mais de 40% da produção de alimentos, fibras e cultivos bioenergéticos. 

A agricultura irrigada tem expressiva participação, no País, em culturas como café (os 12% do parque cafeeiro irrigado correspondem a 30% da produção nacional), feijão (a terceira safra só ocorre se for irrigada), arroz (90% da produção nacional provém dos 77% irrigados de toda a área plantada), hortaliças (cerca de 90% da produção é irrigada, com indução social e de renda e uso em boa parte pela agricultura familiar) e na fruticultura (permitindo colheitas durante quase todo o ano e em grandes escalas, além da expansão da atividade em regiões antes consideradas inviáveis). 

Em 2014, um estudo publicado pelo o Ministério da Integração Nacional, atual MIDR, em parceria com a USP/Esalq, estimou que o Brasil tem potencial efetivo, em curto e médio prazos, para irrigar 13,7 milhões ha, considerando as áreas com atualmente com disponibilidade hídrica, fornecimento de energia elétrica e viabilidade logística para escoamento da produção. “Mas a expansão das áreas irrigadas precisa ser feita com sustentabilidade, com condições de produzir sem degradar o meio ambiente”, ponderou a pesquisadora, acrescentando a necessidade de políticas públicas que favoreçam essas condições.

Por fim, Alves destacou que em 15 de junho é comemorado o Dia Nacional da Agricultura Irrigada, que busca não apenas promover a conscientização sobre o segmento como também estabelecer a relação equilibrada entre a produção de alimentos e o meio ambiente, unindo os setores envolvidos e apoiando o desenvolvimento agropecuário sustentável do País. A data foi escolhida por ser próxima ao Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho) e por estar no início da estação seca em grande parte das regiões produtoras brasileiras, período em que a produção de alimentos é quase totalmente dependente da irrigação.

Cultivares de pitaya e sistema de produção


Nos campos experimentais, os estudantes conheceram a área de experimentos com pitaya. Fábio Faleiro falou sobre as características das cultivares lançadas em 2023 pela Embrapa Cerrados – BRS Luz do CerradoBRS Lua do CerradoBRS Granada do CerradoBRS Âmbar do Cerrado e BRS Minipitaya do Cerrado

Os materiais foram selecionados e validados em diferentes regiões brasileiras e sistemas de produção. Além de se destacarem pelo sabor adocicado, pela resistência a doenças e pelas produtividades bem superiores à média nacional (3 t/ha), as cultivares são autocompatíveis, ou seja, produzem frutos sem a necessidade de polinização cruzada, dispensando a realização da polinização manual pelos agricultores durante a madrugada, quando as flores se abrem.

O pesquisador também comentou sobre aspectos de manejo e do sistema de produção da pitaya, além de explicar que o programa de melhoramento genético, iniciado na década de 1990, trabalha, principalmente, as características de produtividade e de qualidade física e química dos frutos, a exemplo da doçura. “Acredito que o lançamento dessas cultivares e da tecnologia tem potencializado o cultivo da pitaya no Brasil, do Rio Grande do Sul até Roraima”, comentou.

Mas informações sobre a cultura e o sistema de produção podem ser encontradas na publicação Pitaya: uma alternativa frutífera, bem como sobre a utilização gastronômica em Pitaya: 200 formas de utilização em receitas doces e salgadas.

Irrigação por gotejamento subterrâneo


Na Unidade de Referência em Manejo de Água (URMA 2), área de 2 ha onde foi implantado um sistema automatizado de irrigação por gotejamento subterrâneo, Maria Emília Alves e o técnico Orlando Viera explicaram o funcionamento da casa de bombas, dos tanques para bombeamento, dos tubos enterrados a 28 cm de profundidade e dos sensores que compõem o sistema, além da montagem dos experimentos, iniciados na safra 2023/24. 

A tecnologia de gotejamento enterrado já é bastante utilizada em cana de açúcar e, em menor extensão, na cafeicultura e na fruticultura. Na Embrapa Cerrados, porém, ela está sendo testada para o cultivo de grãos. São avaliadas diferentes lâminas de irrigação e a fertirrigação em soja (em quatro blocos) e milho safrinha (em dois blocos) e, nos dois blocos restantes da área, são conduzidos testes de reinoculação da soja com Bradyrhizobium spp. Segundo a pesquisadora, a principal vantagem do sistema é a maior eficiência de aplicação de água, além de facilitar os tratos culturais e o manejo das culturas.

Entre os testes realizados, o estudo do bulbo molhado verifica se a água aplicada no subsolo atinge a superfície e em quanto tempo, o que foi demonstrado em uma trincheira cavada na área do experimento. Para avaliar a lâmina d’água para irrigação, o sistema pode trabalhar com níveis de água no solo de 20%, 40%, 60% e 100% da capacidade de campo. 

“Avaliamos o tempo de funcionamento do sistema e a umidade do solo para podermos recomendar a lâmina d’água ideal para esta condição do experimento”, explicou a pesquisadora, destacando que o ponto mais desafiador do uso do sistema com cultura de grãos é a disponibilização de água para a germinação das sementes. “Quando a cultura se estabiliza, o movimento da água é suficiente para satisfazer a necessidade das plantas”, completou.

Já os sensores verificam a variação de umidade no solo, a percolação da água e a umidade em diferentes profundidades, informações que são úteis ao manejo da irrigação e vão permitir o estabelecimento do perfil da movimentação da água ao longo do solo, segundo Alves.

A pesquisadora Solange Andrade falou sobre os testes com a reinoculação de Bradyrhizobium spp. em soja, que está sendo avaliada tanto por meio do sistema de irrigação subterrânea como pela aplicação por barra pulverizadora. Os tratamentos são comparados a uma área testemunha onde não há a reinoculação. Os testes foram realizados no último verão (período chuvoso) e estão sendo repetidos neste inverno (período seco). Ela explicou que a ideia é verificar se a reinoculação afeta o rendimento de grãos da cultura e, em caso positivo, como ocorre esse efeito.

Conhecimentos para a formação acadêmica


O professor Hermes da Rocha, que trouxe alunos pela terceira vez à Unidade, explicou que a visita dos estudantes a uma área de pesquisa para avaliarem os trabalhos realizados em fruticultura e irrigação é de grande importância para a formação dos acadêmicos.  “São alunos em final de curso e consideramos que é extremamente importante que eles tenham esse contato com a pesquisa, com a ciência, com equipamentos de última geração e com o que está sendo gerado. É certamente algo que vai acrescentar bastante à formação dos nossos estudantes”.

Stefany Suaris está no último ano do curso de Engenharia Agrícola e Ambiental concordou com o professor, sobretudo quanto ao que aprendeu sobre o sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo. “Foi uma novidade que pudemos ver na prática. Minhas dúvidas foram bastante atendidas. Quero muito trabalhar com pequenos produtores e, como aqui o trabalho é mais voltado à pesquisa, isso ajuda bastante para levarmos novas tecnologias à agricultura familiar para otimizar o tempo e o recurso dos agricultores”, disse.

Aluno do nono período de Agronomia, Guilherme Alves comentou que o sistema de irrigação subterrâneo apresentado é uma tecnologia nova no mercado, e que ainda há falta de informação sobre as lâminas d’água para o manejo da irrigação. A irrigação por microaspersão observada na cultura da pitaya também chamou a atenção do estudante, acostumado a ver a cultura sendo irrigada por gotejamento. 

Ele acrescentou que a visita também possibilitou o despertar dele e dos colegas para a área da pesquisa, uma vez que muitos geralmente buscam atuar em áreas comerciais. “Essas inovações nos despertam a buscar a parte de pesquisa. No meu caso, na parte de irrigação, (gostaria de) buscar adaptar lâminas d’água para culturas diferentes, porque hoje, comercialmente, não há tantos dados concretos”.

Breno Lobato (MTb 9417/MG)
Embrapa Cerrados

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Congresso Brasileiro de Soja debaterá 100 anos de soja no Brasil vislumbrando o amanhã


 CBSoja debate 100 anos de soja no Brasil: pilares para o amanhã

A 10ª edição do Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja) e do Mercosoja 2025 será realizada de 21 a 24 de julho de 2025, em Campinas (SP), pela Embrapa Soja. Para esta edição comemorativa dos 50 anos da Embrapa Soja, o tema central dos eventos será os 100 anos de soja no Brasil: pilares para o amanhã. Considerado o maior fórum técnico-científico da cadeia produtiva da soja na América do Sul, a expectativa da comissão organizadora do CBSoja e Mercosoja é reunir cerca de 2 mil participantes de diferentes segmentos. 

A agenda técnica está composta de temáticas referentes aos últimos avanços da ciência para a cultura da soja, assim como contribuições relevantes sobre temas que vêm impactando o cotidiano da cadeia produtiva, sejam processos e práticas ou inovações. “Construímos uma programação com foco em temas que enfatizem a agregação de valor e o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, pautada em tecnologia e inovação”, ressalta o presidente do CBSoja, Fernando Henning, pesquisador da Embrapa Soja.

A programação técnica contará com quatro conferências e nove painéis em que serão realizadas mais de 50 palestras com especialistas nacionais e internacionais de vários segmentos ligados ao complexo soja. “Priorizamos quatro palestras dedicadas  aos desafios logísticos do Mercosul, assim como questões referentes à biotecnologia e à propriedade intelectual na região”, detalha Henning.

Outra inovação na programação do CBSoja será a realização do Mãos à Obra, um espaço dedicado ao debate de questões práticas em cinco grandes temas: Fertilidade do solo e adubação, Manejo de nematoides, Plantas daninhas, Bioinsumos e Impedimentos ao desenvolvimento radicular. Também haverá um worshop internacional Soybean2035: A decadal vision for soybean biotechnology, cujo objetivo é debater os próximos 10 anos das ferramentas biotecnológicas na soja, com palestrantes da China, Estados Unidos, Canadá e Brasil.

Sessão pôster - A comissão organizadora aprovou 328 trabalhos técnico-científicos que serão distribuídos em nove sessões temáticas: 1) Ecologia, Fisiologia e Práticas Culturais, 2) Entomologia, 3) Fitopatologia, 4) Genética, Melhoramento e Biotecnologia, 5) Nutrição Vegetal, Fertilidade e Biologia dos Solos, 6) Plantas Daninhas, 7) Pós-Colheita e Segurança Alimentar, 8) Tecnologia de Sementes e 9) Transferência de Tecnologia, Economia Rural e Socioeconomia. Os trabalhos serão apresentados em sessão pôster, cujos autores  estarão presentes para esclarecimento de dúvidas, em horário definido na programação.

Histórico da soja e papel da Embrapa Soja - Há quatro mil anos, a soja era uma planta selvagem, que crescia na costa leste da Ásia. De acordo com a publicação “A saga da soja: de 1050 a.C. a 2050 d.C”, editada pela Embrapa Soja, a soja chegou ao Brasil pela Bahia, em 1882, quando foram realizados os primeiros testes com cultivares introduzidas dos Estados Unidos, mas não houve sucesso. Somente após ser introduzida no Rio Grande do Sul, em 1914, para testes, e a partir de 1924, em plantios comerciais, é que a soja apresentou adaptação. Porém, a soja obteve importância econômica somente na década de 1960. 

Até o final da década de 1970, os plantios comerciais de soja no mundo restringiam-se a regiões de climas temperados e sub-tropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º. O produtor brasileiro tinha que usar as cultivares importadas dos Estados Unidos que eram adaptadas apenas para a região Sul do Brasil. Com as pesquisas da Embrapa, foi possível romper essa barreira, desenvolvendo variedades adaptadas às condições tropicais com baixas latitudes, permitindo o cultivo da oleaginosa em todo o território brasileiro.

Além do desenvolvimento de novas cultivares, a Embrapa e seus parceiros criaram um sistema de produção de soja tropical. Isso inclui recuperação/manutenção da fertilidade do solo, técnicas de manejo da cultura, controle de plantas daninhas e pragas e doenças, melhoria da qualidade das sementes, entre outras. Esse conjunto de tecnologias tem permitido a sustentabilidade agrícola da cultura da soja no Brasil. A Embrapa Soja foi criada em 16 de abril de 1975, com o propósito de desenvolver tecnologias que viabilizassem a produção de soja no Brasil. Foi além, tornou-se referência mundial em pesquisa dessa oleaginosa para regiões tropicais. 

Na safra 2024/25, o Brasil produziu aproximadamente 167 milhões de toneladas de soja, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que mantém o País na liderança mundial da produção do grão, seguida dos Estados Unidos e da Argentina. Historicamente, a Embrapa Soja, vem liderando redes de pesquisa para geração de soluções sustentáveis para incrementar a produção da leguminosa, reduzir os custos de produção e as emissões de CO2 relacionadas a sua produção além de aumentar a renda dos produtores.

 

Mais informações na página do evento www.cbsoja.com.br.

SERVIÇO - X Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2025
Data: 21 a 24 de julho de 2025
Local: Campinas (SP)
Inscrições e mais informações: cbsoja.com.br

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Embrapa Pesca e Aquicultura lança cartilha sobre boas práticas sanitárias na criação do pirarucu

 

A publicação é ilustrada e contém orientações e dicas para que o produtor possa diminuir as chances de doenças no cultivo da espécie

“Principais doenças e boas práticas sanitárias na criação do pirarucu” é a mais recente cartilha da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO), voltada para produtores, extensionistas e estudantes. Com uma linguagem simples e acessível, a publicação é ilustrada, com 24 páginas, e traz orientações e dicas para que o produtor possa diminuir as chances de doenças no cultivo da espécie. A cartilha está disponível online e pode ser baixada gratuitamente no site da Embrapa ou na Ater+Digital ‒‒ plataforma premiada da Embrapa que traz vídeos, notícias e publicações sobre o cultivo e produção em diversas áreas importantes da agropecuária, numa linguagem simples e direta.

 

“A cartilha traz um compilado de informações de doenças de pirarucu e manejos que temos desenvolvido nas pesquisas que realizamos com a espécie nos últimos anos”, detalha a pesquisadora da Embrapa Pesca e Aquicultura, Patricia Maciel. 

 

A cientista conta que a Embrapa já tinha outros livros sobre o assunto, mas havia a necessidade de uma publicação com uma linguagem mais rápida e direta para levar informação a produtores e técnicos que trabalham com a espécie. “São informações objetivas e sem muita especificações, justamente devido à natureza ser uma cartilha”, esclarece.

 

A veterinária enumera as boas práticas de manejo na piscicultura que impactam diretamente na produção: monitoramento da qualidade da água; alimentação adequada dos peixes; cuidados nos manejos de biometria; na transferência de peixes de um tanque para outro (repicagem) para evitar estresse e lesões na pele dos peixes, assim como evitar o uso indiscriminado de medicamentos, tais como antibióticos, sob risco de desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos. 

 

“No caso dos pirarucus, por ser uma espécie de respiração aérea, é comum os produtores não cuidarem da qualidade da água, mas já provamos em outros estudos o quanto uma água de viveiro bem cuidada impacta no crescimento e na saúde do animal”, conclui.


Matéria originalmente publicada no portal da Embrapa Pesca e Aquicultura.

Elisângela Santos (19.500-RJ)
Embrapa Pesca e Aquicultura

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Tecnologia e boas práticas impulsionam cultivo da pitaya no DF

 


Cultivares geneticamente superiores e boas práticas agrícolas no cultivo da pitaya foram os principais temas do Dia de Campo promovido pela Embrapa Cerrados e Emater-DF, realizado na última quarta-feira (28). O evento aconteceu na Unidade de Apoio da Fruticultura da Embrapa Cerrados e reuniu cerca de 50 fruticultores, além de técnicos e extensionistas da Emater-DF.

A programação atraiu a atenção de produtores interessados em diversificar suas culturas. Maristela Soeira, uma das participantes, saiu animada com o que aprendeu: “O que aprendi aqui hoje vou aplicar com certeza. Vou me tornar uma produtora de pitaya”, afirmou. Ela contou já ter tentado o cultivo da fruta anteriormente, mas sem sucesso. “Agora não vou perder tempo”, garantiu.

Outra produtora presente, Norma Fernandes, celebrou a oportunidade de finalmente participar do encontro. “Sempre quis vir, mas nunca tive oportunidade. Vou levar daqui muito conhecimento e espero voltar outras vezes. Além de tudo, isso faz bem para a minha saúde mental”, destacou.

Durante o evento, o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro, apresentou as novas cultivares da fruta desenvolvidas pela instituição: BRS Lua do Cerrado, BRS Luz do Cerrado, BRS Granada do Cerrado, BRS Minipitaya do Cerrado e BRS Âmbar do Cerrado. Ele também destacou as boas práticas de manejo recomendadas no sistema de produção e falou sobre a versatilidade da pitaya na culinária, apresentando a publicação Pitaya: uma alternativa frutífera e o livro Pitaya: 200 formas de utilização em receitas doces e salgadasAcesse aqui mais informações sobre as cultivares.

Na segunda parte da programação, os participantes fizeram uma visita guiada à Unidade Experimental das Pitayas. Geovane de Andrade, técnico da Embrapa Cerrados, e Felipe Cardoso, extensionista da Emater-DF, apresentaram recomendações técnicas sobre o cultivo da fruta, abordando preparo do solo, plantio, espaldeiramento, controle de plantas invasoras, adubação, irrigação, colheita e os tipos de podas recomendadas. O material propagativo gerado durante as demonstrações foi entregue à Emater-DF para implantação de novas unidades demonstrativas na região.

Felipe Cardoso destacou os frutos da parceria entre Embrapa e Emater-DF no fomento à pitaya no Distrito Federal. Um dos marcos foi a criação de uma unidade de validação na feira AgroBrasília, onde, anualmente, são realizadas oficinas de poda. “A cada oficina, o produtor aprendia sobre as novas variedades e técnicas de cultivo, e muitos levavam cladódios para iniciar plantações próprias”, contou. Como resultado, o número de produtores passou de apenas quatro para 103, e a área plantada já chega a 35 hectares no DF.

Para os interessados em aprofundar os conhecimentos, a Embrapa Cerrados disponibilizou na plataforma e-Campo o minicurso gratuito Fruticultura Tropical – Pitayas: melhoramento genético e sistemas de produção. Com carga horária de seis horas, o curso aborda temas como cultivares, melhoramento genético, sistemas de produção e boas práticas agrícolas. A capacitação é online, pode ser feita a qualquer momento e oferece certificação pela Embrapa.

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