quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Dia da agricultura: como a pesquisa científica transformou o Cerrado em referência mundial de produtividade e sustentabilidade

 

José Roberto Rodrigues Peres

Pesquisador da Embrapa Cerrados

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O Dia da Agricultura, comemorado em 17 de outubro, ganha significado especial em 2025, ano em que a Embrapa Cerrados celebra 50 anos de contribuições à ciência e ao desenvolvimento do país. Nesse período, a instituição foi protagonista de uma das maiores transformações do campo brasileiro: a conversão do Cerrado em referência mundial de produtividade, sustentabilidade e inovação agrícola.

Na década de 1970, o Brasil tomou uma decisão que mudaria para sempre o rumo de sua agricultura. O governo federal definiu que o Cerrado, até então considerado uma região de solos pobres e improdutivos, seria a nova fronteira agrícola do País. Essa estratégia foi consolidada pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975–1979), que estabeleceu a agricultura como eixo estratégico do crescimento econômico, com a missão de alimentar a população, fornecer matérias-primas para indústrias e gerar divisas por meio do fortalecimento das exportações.

Dentro desse plano, foi criado o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro), com o objetivo de modernizar as atividades agropecuárias do Centro-Oeste e do oeste de Minas Gerais. Essa iniciativa impulsionou a criação, em 1975, do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC) — atual Embrapa Cerrados —, responsável por desenvolver as tecnologias que tornaram possível a ocupação racional e produtiva dessa imensa região.

Com 207 milhões de hectares, o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e detém a segunda maior biodiversidade do planeta. É conhecido como o “Berço das Águas do Brasil”, por abrigar as nascentes que alimentam oito das doze grandes bacias hidrográficas do País, entre elas as do Amazonas, do São Francisco e do Paraná-Paraguai. Produzir alimentos com preservação ambiental nesse monumental bioma era, portanto, ao mesmo tempo, um desafio e uma grande responsabilidade.

De solo pobre a produção pujante

Até os anos 1970, o Cerrado era considerado uma região inóspita, de baixa aptidão para o cultivo. Seus solos ácidos e pobres em nutrientes, aliados a um regime climático rigoroso, impunham sérias limitações à agricultura. Sua economia regional baseava-se na pecuária extensiva, no arroz de sequeiro e na extração de madeira e carvão vegetal.

Foi nesse contexto que nasceu a Embrapa Cerrados, unindo esforços de cientistas, extensionistas e produtores. O resultado foi uma verdadeira revolução: a ciência passou a atuar de forma decisiva para adaptar solos, plantas e sistemas produtivos às condições tropicais. Hoje, o bioma responde por mais da metade da produção nacional de grãos, carnes, leite, fibras e bioenergia, consolidando-se como um dos maiores polos agropecuários do planeta.

Entre 1975 e 1995, a Embrapa Cerrados estruturou uma base científica sólida para o uso racional dos recursos naturais, com pesquisas voltadas à avaliação dos recursos do bioma, à reconstrução dos solos e ao desenvolvimento de sistemas produtivos adaptados às condições edafoclimáticas.

O desenvolvimento de tecnologias de correção de solo (como o uso de calcário e gesso agrícola), adubação eficiente, manejo de nutrientes e valorização da matéria orgânica revolucionou o equilíbrio entre produção e conservação. A Fixação Biológica de Nitrogênio, com estirpes de rizóbios adaptadas, é outro marco: substituindo fertilizantes nitrogenados, ela gera economias bilionárias — reduzindo custos agrícolas em cerca de dezessete bilhões de dólares por ano.

Essas inovações, somadas ao melhoramento genético vegetal e animal, foram decisivas para “tropicalizar” culturas como soja, milho, algodão, café, frutas e trigo, permitindo que prosperassem em áreas antes improdutivas e consolidando o domínio da Agricultura Tropical.

Na década de 1990, a Embrapa Cerrados diversificou ainda mais a base produtiva regional, introduzindo cultivos alternativos como cevada, girassol, amendoim, maracujá, quinoa, amaranto, etc. Também desenvolveu cultivares adaptadas, otimizou sistemas de irrigação e viabilizou o uso racional da água em culturas como café, trigo e frutas, entre outras culturas.

Outro marco para a agricultura no Brasil e protagonizado pela Embrapa Cerrados foi a criação, em 1995, do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC): ele orienta o melhor período de plantio para cada cultura, reduz perdas e aumenta a produtividade. O resultado? O país economiza milhões de reais em seguros agrícolas.

Biodiversidade: riqueza e alimento

As mais de 6.700 espécies de plantas nativas do Cerrado vêm sendo estudadas há décadas pela Embrapa Cerrados, em pesquisas que resgatam o conhecimento tradicional e transformam essa riqueza natural em oportunidades econômicas e ambientais. Espécies como pequi, baru, cagaita e araticum tornaram-se símbolos dessa nova economia baseada na biodiversidade.

Os estudos de conservação e manejo da biodiversidade do bioma e das Matas de Galeria uniram ciência e participação comunitária, ajudando a preservar nascentes, restaurar áreas degradadas e valorizar o conhecimento local, mostrando que desenvolvimento e conservação podem caminhar juntos.

Nas décadas de 1990 e 2000, a Embrapa Cerrados e seus parceiros tiveram papel decisivo na adaptação e expansão do plantio direto nos sistemas de produção. Com o uso de plantas de cobertura adaptadas, os pesquisadores viabilizaram a manutenção da palhada e o aumento dos estoques de carbono no solo.

Esses avanços abriram caminho para uma abordagem mais sistêmica, com o desenvolvimento de tecnologias voltadas a sistemas integrados de produção, em especial a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que promove o uso intensivo e sustentável da terra, combinando grãos, forragem, carne e árvores no mesmo espaço. Os resultados impressionam: até 12 toneladas de grãos por hectare e 12 arrobas de carne produzidas de forma sustentável.

O resultado é uma agricultura tropical moderna, produtiva e ambientalmente responsável, que gera renda, conserva recursos naturais e contribui para a mitigação das mudanças climáticas.

Agricultura familiar bem-sucedida

A Embrapa Cerrados também atua fortemente na agricultura familiar e no desenvolvimento rural sustentável. Projetos desenvolvidos em Silvânia (GO) e Unaí (MG) mostraram que o conhecimento técnico, aliado à organização comunitária, transforma realidades. Em Silvânia, por exemplo, mais de 600 famílias se organizaram em associações, elevando a produtividade do arroz em mais de 200% e a produção de leite em 40%.

A agroecologia e a produção orgânica deixaram de ser apenas nichos de mercado, tornando-se estratégias consolidadas de desenvolvimento sustentável para o Cerrado, integrando ciência, inovação tecnológica, valorização dos agricultores familiares e respeito à biodiversidade.

Outro trabalho inovador é o resgate de sementes tradicionais em comunidades indígenas, que devolve autonomia alimentar e cultural a povos que quase perderam suas variedades originais de milho, mandioca e batata-doce.

Modelo para o mundo

O bioma que um dia foi considerado “impróprio para a agricultura” é hoje uma das principais fontes de alimentos, bioenergia e biodiversidade do planeta. O desafio atual é continuar crescendo com equilíbrio: produzir mais, conservar melhor e garantir que o Cerrado siga sendo o coração produtivo e ecológico do Brasil.

Ao longo de 50 anos, a Embrapa Cerrados mostrou que o conhecimento científico é a base para um futuro sustentável. Graças ao trabalho de centenas de pesquisadores e à cooperação com universidades, produtores e instituições internacionais, o Cerrado tornou-se um laboratório vivo de inovação agrícola e um modelo para o mundo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Campos experimentais e laboratórios da Apta Regional ao alcance da sociedade com a 4ª edição do “Apta Portas Abertas”

 


O Apta Portas Abertas está chegando e promete uma experiência ímpar para toda a sociedade! Uma oportunidade imperdível de explorar o fascinante universo das pesquisas agropecuárias, de forma interativa e super divertida. Na Apta Regional, o evento ocorrerá no dia 17 de outubro, em cinco fazendas – Itapetininga, Pariquera-Açu, São Roque, Andradina e Pindamonhangaba.
 

Para saber mais sobre a pesquisa agropecuária e como seus resultados estão presentes na alimentação do dia a dia e até mesmo como alguns produtos estão inseridos em seu vestuário, os Institutos de Pesquisa da Apta (Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, abrem suas portas para a população conhecer um pouco mais do que realizam nos laboratórios, em campos experimentais e nas instalações para pesquisa em diversas fazendas do Estado.
 

Em cada unidade, os pesquisadores e técnicos estarão presentes para receber os visitantes e mostrar as diversas pesquisas desenvolvidas.

Na Apta Regional de São Roque serão abordadas as pesquisas sobre Produção Orgânica e Agroecologia.
 

Já na Apta Regional de Pariquera-Açu, os pesquisadores estarão com ações das cadeias produtivas do Vale do Ribeira, que incluem banana, cacau, café canéfora e criação de lambari. Os pesquisadores vão mostrar como é feita a colheita de banana e pupunha, com direito a experimentar essas delícias fresquinhas.
 

Ao mesmo tempo, na Apta Regional de Itapetininga ocorrerão visitas nas áreas de pesquisas com sojas regenerativas, exposições e abordagens sobre as potencialidades das patentes Rabixoo4tag e Tereoil.

Na fazenda da Apta Regional de Andradina as atividades serão sobre as pesquisas com mandioca e clones de manga, Educação Ambiental, ações sobre Sistemas Integrados de Produção, trabalhos com Bioinsumos e produção de Nelore Mocho.

E em outra fazenda, na Apta Regional de Pindamonhangaba, os pesquisadores estarão com ações das cadeias produtivas do Vale do Paraíba, o que inclui a Bovinocultura Leiteira. Os pesquisadores vão mostrar como é feita toda a produção leiteira, desde a ordenha das vacas, o processo de silagem de milho, a alimentação e o manejo dos bezerros e um passeio pela unidade mostrando as pesquisas científicas com o gado de leite. Por fim, será servido um café da Comevap, com queijos, manteigas, leite, entre outros produtos.

“Esse evento especial da Apta, preparando espaços que destacam as pesquisas e as tecnologias desenvolvidas nas fazendas, são muito importantes para integrarem a sociedade sobre tudo que fazemos e que está no cotidiano de cada pessoa”, destaca Daniel Gomes, coordenador da Apta Regional.
 

Venha se divertir nesse mundo dos cientistas enquanto aprende sobre o agronegócio paulista!
 

Apta Portas Abertas

Apta Portas Abertas é uma iniciativa da Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios (Apta) que busca aproximar a população das instituições de pesquisas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. As unidades participantes incluem o Instituto Agronômico (IAC), Instituto Biológico (IB), Instituto de Pesca (IP), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de Zootecnia (IZ), Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e a Apta Regional. Consulte a programação completa neste link.

Sobre a Apta Regional

A APTA Regional, Instituição de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo – ICTESP – é uma das sete instituições de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA). São 18 Unidades Regionais de Pesquisa e Desenvolvimento no estado de São Paulo, nas áreas de agronomia, zootecnia, pesca continental, sanidade vegetal, sanidade animal, agregação de valor em produtos de origem animal e vegetal, sistemas integrados de produção e segurança alimentar. Considerada o maior hub descentralizado de pesquisa do agronegócio, com soluções tecnológicas aplicadas na agricultura e na pecuária paulista, focadas nas peculiaridades locais e regionais, atendendo as necessidades das cadeias produtivas do agro.
 

Por Lisley Silvério (MTb. 26.194)

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Da Intuição à Inteligência: A Gestão Pecuária 2.0

 


Oberdan Pandolfi Ermita*

 

A pecuária brasileira foi construída com suor, dedicação e muito trabalho. Esse setor, que carrega orgulho e tradição, busca manter seu legado para as próximas gerações. Mas o mundo está mudando — e se digitalizando — e o produtor percebe e gostaria de acompanhar essas transformações. Em termos de gestão, existe uma lacuna entre o que a tecnologia vem permitindo e o que é acessível para a maioria dos pecuaristas. 

 

É nesse cenário que a Inteligência Artificial (IA) se apresenta como uma verdadeira revolução da gestão de manejo da pecuária. Assim como as fintechs simplificaram a vida financeira, a ferramenta está simplificando a vida do produtor rural. A chave é a democratização da gestão, utilizando a Inteligência Artificial (IA) para tornar o processo intuitivo e, principalmente, acessível. A grande ‘sacada’ é que a tecnologia se adapta ao ‘jeitão’ do produtor e não o contrário. Em vez de exigir mudanças drásticas na rotina, utiliza-se uma ferramenta que já faz parte do dia a dia de todos: o WhatsApp.

 

Ao permitir que o produtor registre seus manejos e observações de forma simples e direta pelo WhatsApp, a plataforma remove a barreira de entrada da complexidade. A IA, então, entra em ação, organizando, interpretando e transformando essa massa de dados brutos em informações claras e úteis. O que antes era um cálculo complexo, restrito a consultores caros, agora se torna um painel de indicadores fácil de entender, disponível na palma da mão.

 

O que se observa nos pastos e currais cada vez mais é que o pecuarista no Brasil de hoje tem procurado se conectar ao máximo. Ele também tem se profissionalizado muito mais que em outras fases. Os criadores ao que se tem notícia nunca ficaram tão atentos a tantas exigências que o mercado tem feito. As fazendas definitivamente se tornaram negócios que estão de olho o tempo todo especialmente na sua rentabilidade e desempenho.

 

A imprensa especializada em agro calcula que neste ano, com o apoio da procura internacional juntamente com as novas tecnologias, o Valor Bruto de Produção deve apresentar um aumento de 21,5%. Foi constatado também que no caso da pecuária premium, ela já se consolidou como segmento de mercado, com base em seus diferenciais em técnicas de maturação (que procuram melhor sabor, mais maciez e a suculência na carne) e também dos adventos das novas tecnologias de informação.

 

Nos Estados Unidos as perspectivas são que essa nova tecnologia tende a evoluir bastante na gestão da pecuária nos EUA nos próximos anos. O site ASD Reports Premium Market Research publicou que o mercado global de inteligência artificial (IA) na pecuária de precisão atingiu US$ 2,23 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 19,87 bilhões até 2032, crescendo com um CAGR (Compound Annual Growth Rate) ou Taxa de Crescimento Anual Composta de 15,39%, durante o período previsto de 2025-2032. 

 

Esta taxa computa o crescimento médio de um valor (por exemplo, receita, mercado, investimento) ao longo de vários anos, considerando o efeito dos juros compostos. Assim sendo, a invernada ou engorda ‘inteligente’ – intensiva ou extensiva – fica cada vez mais apetitosa no campo.

 

 

 

*Oberdan Pandolfi Ermita é economista pela Universidade Federal do Espírito Santo, produtor rural e dirigente cooperativista. Possui MBA em Gestão Financeira de Cooperativas de Crédito pela Fundação Getúlio Vargas e é doutorando em Economia Aplicada pela Universidade de Madrid. Atuou como professor de graduação e pós-graduação, e também foi consultor em projetos econômicos. Atualmente é presidente do Conselho de Administração na Sicoob Credip. É um dos precursores da IABOIhttps://iaboi.com.br/ ), tecnologia de IA por WhatsAPP para a pecuária bovina. 

 

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Monitoramento de 30 anos aponta vantagens da Exploração de Impacto Reduzido (EIR) para conservação e produção de madeira

 

Uma pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) revela que o manejo florestal com técnicas de Exploração de Impacto Reduzido (EIR) promove maior recuperação de biomassa e resiliência em florestas tropicais da Amazônia quando comparado à exploração convencional (EC), considerada predatória.

O trabalho foi realizado pelo engenheiro florestal Rodrigo Costa Pinto, como tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais da Esalq, sob orientação do professor Edson Vidal, do Departamento de Ciências Florestais. A pesquisa teve colaboração da Embrapa Amazônia Oriental e da Wageningen University (Holanda), com apoio da Capes e da Fapesp.

O estudo avaliou 30 anos de monitoramento em áreas de floresta manejadas na Fazenda Agrosete, em Paragominas (PA), utilizando inventários florestais periódicos e tecnologia de sensoriamento remoto com LiDAR embarcado em drones. Os resultados apontam que áreas submetidas à EIR recuperaram 128% da biomassa original em 24 anos, enquanto áreas exploradas de forma convencional permaneceram abaixo do nível inicial, com cerca de 90% da biomassa recuperada.

Além da biomassa, a EIR apresentou melhor estrutura do dossel (maior altura e índice de área foliar, com menor abertura de clareiras) e maior resiliência frente a eventos climáticos extremos. O estudo também demonstrou que o uso integrado de inventários de campo e LiDAR é uma ferramenta eficiente para monitorar a recuperação florestal, subsidiando práticas de fiscalização e planejamento sustentável.

Segundo Rodrigo Costa Pinto, a pesquisa traz uma base científica sólida para fomentar a transição de práticas convencionais para o manejo de impacto reduzido, fortalecendo políticas públicas e mecanismos como REDD+ e Incentivos ao Manejo Florestal. “A EIR não apenas reduz os danos imediatos, mas também garante maior resiliência das florestas tropicais a longo prazo”, destaca o pesquisador.


vista aérea da fazenda Agrosete,em Paragominas (PA) - crédito: Rodrigo Costa Pinto

Estudo aponta oportunidades para produtores brasileiros no mercado internacional de tilápia

 

Principal peixe produzido e exportado pelo País, a tilápia é o carro-chefe da aquicultura nacional

Um estudo realizado pela Embrapa mapeou o mercado de tilápia na Europa e nos Estados Unidos, indicando oportunidades e desafios para os produtores brasileiros. Principal peixe produzido e exportado pelo País, a tilápia é o carro-chefe da aquicultura nacional, setor que tem crescido de forma consistente nos últimos anos. Apesar desse avanço, ainda há grande potencial a ser explorado, considerando características naturais do Brasil, como qualidade da água e disponibilidade de áreas que podem ser incorporadas à produção.

Os cenários são diferentes nas duas regiões. O consumo de tilápia por pessoa na Europa é muito baixo, ficando em média em 39 gramas por habitante por ano. Destaque para a Bélgica, que apresenta média de 147 gramas por habitante por ano. Porém, bem abaixo da média de consumo nos Estados Unidos, que é de 460 gramas por habitante por ano. Entre os europeus, o consumo é mais de nicho, focado em grupos étnicos de origem latino-americana, árabe, asiática e africana. Já nos Estados Unidos, desde a década de 1990 houve expansão no consumo, o que levou a tilápia a ser um dos peixes mais consumidos; entre os de carne branca, lidera.

Quem detalha esse quadro é Manoel Pedroza, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO): “no caso dos Estados Unidos, chama a atenção a grande popularidade da tilápia junto aos consumidores em todo o país, o que tem proporcionado o crescimento do consumo de diversos produtos de tilápia, tanto frescos como congelados. A tilápia rompeu os nichos de mercados asiáticos e latinos e hoje é um produto consumido de maneira ampla. Por outro lado, no caso da Europa percebemos um consumo de tilápia bem mais limitado, sendo focado nos nichos de mercados étnicos e em produtos congelados com preços mais reduzidos”.

Naturalmente, o recente tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump afetou as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Mas numa intensidade menor que a projetada. O resultado de agosto deste ano (primeiro mês com vigência do tarifaço) indicou queda, em toneladas, de 32% nas exportações comparando-se com agosto de 2024. “Especialistas do setor esperavam uma queda maior e esse resultado mostra que o setor continua presente no mercado norte-americano, mesmo no cenário atual”, afirma Pedroza.

Oportunidades e desafios

O pesquisador da Embrapa enxerga uma oportunidade de o Brasil crescer suas exportações de tilápia congelada para os Estados Unidos, ampliando a presença, que hoje é mais forte no mercado de filé fresco (foto à direita) naquele país. Segundo Pedroza, apesar de o mercado de congelados ser mais competitivo em termos de preço, possui uma demanda bem maior. “Algumas empresas brasileiras já vinham investindo na exportação de tilápia inteira e de filés congelados para os Estados Unidos, mas o tarifaço atrapalhou esse processo”, complementa.

Com relação ao mercado europeu, quando a etapa de reabertura for vencida, há uma boa oportunidade para o Brasil exportar produtos frescos de tilápia. Pedroza projeta que “os exportadores brasileiros podem se beneficiar da boa reputação do filé fresco de tilápia do Brasil e também aproveitar a grande oferta de voos para diversos países da Europa, tendo em vista que o transporte aéreo é essencial para os produtos frescos. No entanto, será necessário um trabalho robusto de divulgação dos produtos brasileiros e desenvolver a demanda por tilápia fresca, que atualmente é baixa na Europa”.

Como oportunidade para a tilápia brasileira na Europa, a pesquisa indica que os exportadores podem investir numa estratégia de diferenciação que destaque a qualidade do produto nacional. Além disso, há necessidade de se abrir mercados além dos tradicionais nichos étnicos e também de competir com outras espécies que têm filés brancos, como panga, polaca do Alasca e perca do Nilo. Um fato que pode aumentar a competitividade de vários produtos de tilápia exportados para a Europa, inclusive os brasileiros, diz respeito aos preços da tilápia chinesa, que estão subindo por conta de aumentos nos custos de ração e de transporte naquele país.

Já no mercado dos Estados Unidos, a pesquisa aponta como oportunidades: valorização da tilápia brasileira em nichos considerados premium por conta da qualidade do produto; crescente demanda por rastreabilidade; queda na oferta de tilápia da China e de alguns países da América Central; o segmento de tilápia congelada; e agregação de valor em produtos, a exemplo de novos cortes, empanados, tilápia vermelha e embalagens prontas para consumo.

Como desafios, a pesquisa lista, na Europa: tornar a tilápia mais conhecida por meio de ações de comunicação e de marketing junto a diferentes públicos, além da participação em eventos relevantes sobre pescado; estabelecer preços competitivos para que seja mais viável acessar o mercado daquele continente; e focar, de maneira estratégica, na qualidade como diferencial frente a outras espécies que também têm carne branca.

Já os desafios para os produtores brasileiros de tilápia no mercado dos Estados Unidos envolvem, de acordo com a pesquisa: o conhecido e recente aumento das tarifas de exportação, o chamado tarifaço; a necessidade de redução de preços para aumento da competitividade do produto naquele mercado; a logística para exportação de produtos frescos, que exige agilidade e um processo cada vez mais dinâmico; e a exigência de certificação internacional.

A pesquisa, que gerou a publicação de dois informativos especiais (links nos quadros abaixo), foi feita no âmbito do projeto “Fortalecimento das exportações brasileiras da aquicultura”, coordenado e executado pela Embrapa Pesca e Aquicultura. O financiamento foi por meio de emendas parlamentares de números 45000016 e 31760007. A pesquisa contou também com apoio da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).

Imagem: Freepik

 

Produção de tilápia no mundo

Entre 2013 e 2023, a produção mundial de tilápia cresceu 43%, passando de 4,75 milhões de toneladas para 6,78 milhões de toneladas. A China lidera o ranking, com 27% da produção (1,8 milhão de toneladas), em 2023. Na sequência, vêm Indonésia (com 1,4 milhão de toneladas, o equivalente a 21% da produção) e Egito (que produziu 960 mil toneladas, que representam 14% do total). Os dados são da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O Brasil ocupa a quarta colocação, com produção de 440 mil toneladas, o equivalente a 7% da produção mundial em 2023. Foi um crescimento significativo com relação a 2013, quando o País produziu 170 mil toneladas. A variação positiva nesse período de dez anos chegou a 161%. A participação brasileira em termos percentuais também cresceu, passando de 4% em 2013 para os 7% em 2023. Outro avanço foi com relação ao ranking: o Brasil ocupava a oitava posição em 2013; dez anos depois, subiu para a quarta colocação.

Foto: Manoel Pedroza

 

Mercado na Europa

A tilápia ainda ocupa posição discreta no varejo europeu quando se analisam os peixes brancos. Em 2024, foi a sexta espécie mais importada, com 36,6 mil toneladas num universo total de quase 1,4 milhão de toneladas. Quando comparado com outras espécies que têm a mesma faixa de preço no varejo, o volume da tilápia equivale a 11% das importações de polaca do Alasca (que totalizaram 323,3 mil toneladas em 2024) e a 47% das importações de panga (que chegaram a quase 77 mil toneladas no mesmo ano).

De acordo com a publicação da Embrapa, “as importações europeias de tilápia têm apresentado estabilidade ao longo dos últimos dez anos, se mantendo em torno de 35 mil toneladas por ano. Entre 2014 e 2024, as importações dessa espécie na Europa cresceram 13,5% em valor e apenas 2,4% em volume”. Um fato que chama a atenção é que, entre os dez principais países que exportam tilápia para a Europa, seis são considerados reexportadores, ou seja, recebem e repassam o produto a outros países. Os outros quatro são asiáticos: China, Vietnã, Indonésia e Tailândia. Os dados são do European Market Observatory for Fisheries and Aquaculture Products (Eumofa).

 

Mercado nos Estados Unidos

Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos a tilápia foi a segunda espécie de peixe mais importada em 2024. As mais de 185,5 mil toneladas equivalem a 13% do total naquele ano. À frente da tilápia, esteve o salmão, com 468 mil toneladas e 34% do total importado pelo país em 2024. Em termos financeiros, a tilápia importada pelos Estados Unidos no ano passado movimentou mais de U$ 740 mil, respondendo por 6% do total. Nesse ranking, o atum esteve à frente, com mais de U$ 860 mil ou 7% do total financeiro. Na liderança, novamente o salmão, que movimentou mais de U$ 5,760 milhões, metade do total. Os dados são do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Segundo a publicação da Embrapa, “entre 2014 e 2024, as importações de tilápia dos Estados Unidos passaram de 232.290 toneladas para 185.522 toneladas, ou seja, uma queda de 20%. Nos últimos anos, as importações norte-americanas de tilápia têm se estabilizado em torno de 180 mil toneladas”. Mesmo dominando essas importações, a China viu caírem os índices no período. De 69% do total em termos financeiros em 2014, foi para 52% em 2024; já em termos de peso, passou de 75% para 67%, respectivamente. O Brasil, que, no ano passado, foi o quarto maior exportador de tilápia para os Estados Unidos, não figurava entre os dez principais em 2014. Em termos percentuais, foram 7% do valor e 5% do peso importados pelos EUA em 2024.

 

Clenio Araujo (MTb 6279/MG)
Embrapa Pesca e Aquicultura

Oficina sobre Bancos Ativos de Germoplasma e melhoramento genético de frutíferas nativas do Cerrado é realizada na Embrapa Cerrados

 


Foto: Fábio Faleiro

Fábio Faleiro -

Como ação do projeto “Plantas para o Futuro”, apoiado pela Embrapa Cerrados, foi realizada no dia 1º de outubro uma oficina sobre Bancos Ativos de Germoplasma e melhoramento genético de frutíferas nativas do Cerrado, com a participação de 37 profissionais. O objetivo foi promover a valorização e o uso sustentável de espécies nativas do Cerrado com potencial econômico, estimulando o conhecimento prático e a troca de saberes.

A oficina envolve parcerias com várias instituições como Embrapa Hortaliças (DF), Jardim Botânico, Universidade de Brasília e Universidade do Distrito Federal, Emater-DF, Secretarias de Estado de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural e do Meio Ambiente do Distrito Federal, além do Instituto Desponta Brasil, organizador do evento.

O coordenador nacional do Plantas para o Futuro, Lídio Coradin, e a engenheira agrônoma Julcéia Camillo apresentaram a iniciativa, voltada à promoção do uso, valorização do conhecimento e conservação da flora nativa brasileira em prol da presente e das futuras gerações.

Os participantes da oficina visitaram os Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) e Melhoramento de Frutíferas do Cerrado, apresentados pelo chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Unidade, Fábio Faleiro; de Pequi, Baru e Mangaba, apresentados pelos pesquisadores Helenice Gonçalves e José Teodoro de Melo; de Baunilhas e Açaí, apresentados pelos pesquisadores Wanderlei de Lima e Fernando Rocha; e de Maracujás, Pitayas, Araçá e Macaúba, apresentados por Faleiro e pelo pesquisador Nilton Junqueira.

Na região Centro-Oeste, existem mais de 170 espécies de plantas nativas com potencial econômico atual ou futuro. Para conhecer mais sobre essas espécies, baixe gratuitamente o livro “Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial – Plantas para o Futuro – região Centro-Oeste” clicando aqui

Na Embrapa Cerrados, diversas ações de pesquisa e desenvolvimento relacionadas à caracterização e uso de germoplasma e melhoramento genético são realizadas envolvendo frutíferas nativas – maracujás, pitayas, pequi, baru, mangaba, macaúba, araçá – e, mais recentemente, açaí e baunilhas. Para conhecer um pouco mais sobre esses trabalhos, baixe gratuitamente o livro “Pesquisa e Inovação em Germoplasma e Melhoramento Genético na Embrapa Cerrados” clicando aqui.

Núcleo de Comunicação Organizacional - NCO
Embrapa Cerrados

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

A Força do Limão Paulista: exportação da fruta cresce 21%

 


SP produziu mais de 1,1 milhão de toneladas da fruta e exportou cerca de 80 mil toneladas (US$72 milhões)

O Estado de São Paulo é o maior produtor nacional de limão, com destaque no crescimento anual na exportação da fruta. Conforme os dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA - Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP (SAA), em 2024, foram cultivadas mais de 1,1 milhão de toneladas. Enquanto, no comércio exterior, no primeiro semestre de 2025, já foram enviadas mais de 81 mil toneladas (US$72 milhões), o que representa um aumento de 21% do produto exportado, em relação ao mesmo período do ano passado.

O mercado europeu é o principal destino das exportações, com destaque para os Países Baixos (62,2 mil t), que servem como porta de entrada através do Porto de Roterdã para distribuição aos demais países do bloco. O ranking de destinos inclui ainda o Reino Unido (11,6 mil t), a Rússia (1,3 mil t) e o Canadá (970 t).

“O comércio entre os Países Baixos e o Brasil é um exemplo dinâmico de mercados agrícolas complementares, com o Estado de São Paulo desempenhando um papel central como principal produtor e exportador, oferecendo oportunidades significativas para fortalecimento da cooperação bilateral em produção e logística sustentáveis. As empresas importadoras de limão dos Países Baixos estiveram em peso na segunda edição da Fruit Attraction, em São Paulo”, destacou o assessor agrícola do Consulado Geral dos Países Baixos, Alf de Wit.

Considerada a capital nacional do limão, o município de Itajobi, região de São José do Rio Preto, destaca-se na produção da variedade taiti. A empresa familiar Pimentel Itajobi, localizada na cidade, atua no ramo há 30 anos, atendendo, principalmente, o mercado internacional como Reino Unido e a União Europeia.

“Em 2024, exportamos mais de 4 mil toneladas de limão tahiti, e vimos um ano bastante próspero para o setor, mesmo enfrentando um período de seca bastante severo para a agricultura. Investimos em melhorias no packing house, aumentando nossa capacidade de produção, resultando em um volume exportado. Apesar dos desafios do setor e do mercado externo, nossa perspectiva para 2025 é de ainda mais crescimento, visando um 2026 ainda melhor”, ressaltou o analista de exportação da Pimentel, Alison Dejavite.

Com o objetivo de promover ainda mais o crescimento internacional da fruticultura paulista, a Secretaria de Agricultura de SP participou da abertura da Fruit Attraction SP 2025, a principal feira internacional de frutas e hortaliças da América Latina. “A fruticultura agrega valor, movimenta a economia, gera empregos e preserva o meio ambiente. São Paulo é o estado com a maior diversificação de culturas do Brasil, o que nos faz liderar a balança comercial brasileira mesmo em anos difíceis, com seca severa”, ressaltou o secretário de Agricultura e Abastecimento, Guilherme Piai.

A Defesa Agropecuária (CDA) apresentou, na edição deste ano, ações de certificação fitossanitária de origem que possibilitam a exportação dos produtos paulistas. O cadastro e supervisão de plantios de lima ácida tahiti, conhecido como limão tahiti, tornam São Paulo como o maior exportador do país, com mais de 70% de lima exportada.

“Investimos continuamente na certificação fitossanitária de origem, garantindo que os produtos paulistas cheguem ao mercado internacional com qualidade e segurança. O cadastro e a supervisão dos plantios de lima ácida Tahiti são resultado do trabalho integrado entre produtores, setor privado e serviço oficial, assegurando competitividade, abertura de novos mercados e geração de renda para pequenos, médios e grandes produtores,” ressaltou o chefe do Departamento de Defesa Sanitária e Inspeção Vegetal (DDSIV), Alexandre Paloschi.

Investimento na produção

A SAA, através do Fundo de Expansão do Agronegócio (FEAP), disponibiliza uma linha que atende às necessidades do produtor para esta cultura. “Para o citricultor de limão, a linha de crédito Agricultura Sustentável Paulista financia a renovação e ampliação do pomar com mudas certificadas, irrigação eficiente e demais investimentos produtivos. Com juros reduzidos e prazos estendidos para a fruticultura, o crédito fornece uma folga de caixa para investir com segurança,” explicou o secretário executivo do FEAP, Felipe Alves.

O teto de financiamento da linha do FEAP é de até R$250 mil para pessoa física e até R$500 mil para pessoa jurídica. O prazo de pagamento é de até 84 meses, com carência de até 12 meses. “O produtor ainda pode contar com os técnicos da CATI e ITESP que elaboram e acompanham o projeto técnico, garantindo que o recurso seja aplicado da forma mais eficiente possível. É a sustentabilidade que vira produtividade e renda no limão paulista”, concluiu Felipe Alves.

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